EM BRASÍLIA

Reforma tributária teve 6 votos favoráveis e 2 contrários da bancada de Roraima

Principal reivindicação da bancada do Estado foi a manutenção dos incentivos fiscais das Áreas de Livre Comércio (ALCs) de Boa Vista e Bonfim

Acima, Albuquerque, Defensor Stélio Dener, Duda Ramos e Gabriel Mota; abaixo,  Helena Lima, Nicoletti, Pastor Diniz e Zé Haroldo Cathedral (Fotos: Câmara dos Deputados)
Acima, Albuquerque, Defensor Stélio Dener, Duda Ramos e Gabriel Mota; abaixo, Helena Lima, Nicoletti, Pastor Diniz e Zé Haroldo Cathedral (Fotos: Câmara dos Deputados)

Após mais de dez horas de sessão, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, o texto-base da reforma tributária por 382 votos a 118, com três abstenções. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) reformula a tributação sobre o consumo. A aprovação em segundo turno ocorreu à 1h39 (de Brasília) desta sexta-feira (7), com 375 votos a favor e 113 contrários à PEC.

Na primeira votação, Albuquerque (Republicanos), Duda Ramos (MDB), Gabriel Mota (Republicanos), Helena Lima (MDB) e Zé Haroldo Cathedral (PSD) foram favoráveis ao texto e reiteraram o voto no segundo turno – no qual Defensor Stélio Dener (Republicanos) participou e também apoiou a proposta. Apenas Nicoletti (União Brasil) e Pastor Diniz (União Brasil) foram contrários à PEC.

A principal reivindicação da bancada de Roraima durante as discussões do texto foi a manutenção dos incentivos fiscais das Áreas de Livre Comércio (ALCs) de Boa Vista e Bonfim, que foram incluídas junto com as outras oito da região Norte.

Consta no relatório da reforma, elaborado pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), que essa reivindicação foi “fruto de importante acordo entre os estados amazônicos e o governo federal, em que foram previstos mecanismos para manter, em caráter geral, o diferencial competitivo assegurado a essas áreas nos níveis estabelecidos pela legislação relativa aos tributos extintos”. Esse diferencial também se estende às Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) do País – Boa Vista não se beneficiaria, porque a criação de sua ZPE foi cassada em 2022.

Gabriel Mota explicou que seu voto favorável à reforma foi por ela ser mais simplificada, com menos impostos e tarifa zero para a cesta básica, além de garantir os benefícios das ALCs de Roraima. “Tenho certeza absoluta que, a partir de agora, nosso País vai desenvolver e o nosso Estado de Roraima também”, afirmou.

Pastor Diniz e Nicoletti disseram à Folha, em conjunto, discordar da celeridade da apreciação da PEC. O segundo enviou à reportagem uma explicação de sua divergência em sete pontos, que incluem, além da ausência de discussão e análise do texto, o risco de elevação da carga tributária, a concentração de poder na União, a criação do imposto seletivo que abriria margem para tributar quase todos os produtos, o aumento do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), a tributação do patrimônio e o “conselhão” que poderia beneficiar determinadas regiões.

A votação

Deputados no plenário durante a discussão da reforma tributária (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)

A sessão começou às 11h, com debates em torno do texto. Por volta das 18h, começou a votação. Um requerimento do PL para adiar a votação foi derrotado por 357 votos a 133 e os debates seguiram enquanto os deputados votavam. A PEC em primeiro turno foi aprovada quando o relógio se aproximava das dez da noite. O número de votos a favor, além da própria aprovação, provocaram efusivas comemorações entre a base governista. O presidente Arthur Lira (Progressistas-AL) também foi celebrado. Antes de proferido o resultado, Lira chegou a se licenciar da presidência da sessão para discursar no púlpito, onde fez uma defesa firme da reforma.

Para ampliar a base de apoio, o relator da proposta na Câmara fez mudanças de última hora. O texto traz algumas mudanças em relação à proposta apresentada há duas semanas, como maiores reduções de alíquotas, isenção para alguns produtos da cesta básica e mudanças no Conselho Federativo, órgão que decidirá as políticas fiscal e tributária.

Mudanças

Após quase duas horas de discussões e de ameaças de adiamento da votação da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro apresentou a última versão do parecer.

Em relação à cesta básica, o novo parecer zera a alíquota do futuro Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) para itens a serem incluídos em lei complementar, além de frutas, produtos hortícolas e ovos. Essa lei criará a “cesta básica nacional de alimentos”. A mudança diminui resistências de alguns estados em abrir mão de arrecadação porque não estimularia uma nova guerra fiscal em torno de produtos alimentícios, já que a lista valerá para todo o território nacional.

O relator também aumentou, de 50% para 60%, o redutor de alíquotas do IVA que incidirão sobre alguns produtos e setores com tratamento diferenciado. Transporte público, saúde, educação, cultura e produtos agropecuários fora da cesta básica nacional pagarão 60% a menos de IVA, imposto que unirá a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), arrecadada pela União, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de responsabilidade dos estados e dos municípios.

Além dos produtos da cesta básica nacional, a CBS não será cobrada sobre medicamentos para doenças graves e sobre serviços de educação superior (Prouni). Os demais produtos pagarão a alíquota cheia de IVA, que será definida após a reforma tributária.

Regimes de arrecadação

O relator manteve regimes específicos de arrecadação para combustíveis, operações com bens imóveis, planos de assistência à saúde, serviços financeiros e apostas. No entanto, incluiu os seguintes setores: serviços de hotelaria, parques de diversão e parques temáticos, restaurantes e aviação regional.

Esses regimes preveem tratamento diferenciado nas regras de creditamento (aproveitamento de créditos tributários) e na base de cálculo; e tributação com base na receita ou no faturamento (em vez do valor adicionado na cadeia).

Conselho Federativo

O Conselho Federativo, encarregado de gerir o IBS, terá o modelo de votação alterado. O grupo será formado por 27 representantes, um de cada unidade da Federação, mais 27 representantes dos municípios. Dos representantes municipais, 14 serão eleitos por maioria de votos igualitários entre os entes e 13 com base no tamanho da população. O Distrito Federal terá duas cadeiras no conselho: uma de unidade da Federação e outra do município.

As decisões do conselho só serão aprovadas caso obtenham, ao mesmo tempo, votos da maioria numérica dos estados e dos representantes que correspondam a mais de 60% da população do país. Os votos dos municípios serão apurados com base na maioria absoluta.

Imposto seletivo

A versão final do relatório modificou o imposto seletivo, que será cobrado sobre bens e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e bebidas e alimentos com excesso de açúcar. Esse imposto não poderá ser cobrado sobre itens que paguem IVA reduzido.

A medida evita que o imposto seletivo incida sobre itens da agropecuária que seriam prejudiciais ao meio ambiente, como agrotóxicos e defensivos agrícolas. A mudança havia sido pedida pela Frente Parlamentar do Agronegócio como condição para aprovar a reforma tributária.

O PSOL apresentou destaque para derrubar a mudança, mas o governo argumentou que discutirá, em uma lei complementar, o detalhamento dos insumos agrícolas. Isso permitiria, em tese, a cobrança do Imposto Seletivo sobre agrotóxicos e defensivos.

Fundo regional

Criado para estimular o desenvolvimento de estados que não poderão mais recorrer à guerra fiscal (reduções de impostos locais) para atraírem investimentos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional foi mantido em R$ 40 bilhões. Diversos estados pediam aportes maiores, de R$ 75 bilhões. A nova versão do relatório, no entanto, não trouxe os critérios para a divisão dos recursos do fundo entre os estados. O tema será definido após a reforma tributária.

Para conseguir o apoio da bancada do Amazonas à reforma tributária, o relator ajustou os artigos relativos à Zona Franca de Manaus e às ZPEs para tornar mais claro o tratamento diferenciado e a vantagem das empresas instaladas nessas áreas.

Cashback e heranças

O parecer final informou que o cashback (devolução parcial de impostos) terá como base a redução de desigualdade de renda, em vez da diminuição da desigualdade de raça e de gênero. A mudança atende a reinvindicações de parlamentares conservadores, que ameaçaram não votar a favor da reforma tributária caso a expressão não fosse retirada.

O cashback institui a possibilidade de devolução ampla de parte do IBS e da CBS a pessoas físicas. A ideia inicial do grupo de trabalho da Câmara que discutiu a reforma tributária era incluir na proposta de emenda à Constituição um mecanismo de devolução a famílias de baixa renda, semelhante ao existente em alguns estados. As condições de ressarcimento serão definidas por meio de lei complementar.

Em relação às heranças, o novo relatório isentou do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) as transmissões para entidades sem fins lucrativos com finalidade de relevância pública e social, inclusive as organizações assistenciais e beneficentes de entidades religiosas e institutos científicos e tecnológicos. Uma lei complementar definirá as condições para essas isenções. A progressividade (alíquotas mais altas para heranças maiores) foi mantida.

*Com informações da Agência Brasil