JESSÉ SOUZA

Parece figurinha repetida, mas é a realidade que não alarma mais ninguém

Corpos desovados nos bairros de Boa Vista se tornou cena corriqueira (Foto: Divulgação)

É inacreditável o ponto a que chegamos na opinião pública roraimense em relação à repercussão de fatos importantes que impactam a vida da sociedade. A briga a cadeiradas de políticos, o áudio de uma conversa sem pé nem cabeça (provavelmente gravado e vazado propositalmente) e as picuinhas de bastidores têm mais relevância do que os verdadeiros problemas que nos afligem.

Novamente, as notícias policiais teimam em nos mostrar uma dura realidade, mas ninguém liga para os graves acontecimentos que sucedem sem alarmar mais a opinião pública. Até a Assembleia Legislativa deixou de ser o que os mais antigos a classificavam como “a caixinha de ressonância da sociedade”. Ninguém dá a mínima atenção.

Até parece ocorrências repetidas, mas ontem um corpo esquartejado dentro de uma mala foi encontrado desovado na periferia de Boa Vista e uma mulher foi assassinada a tiros em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. As duas vítimas são de nacionalidade venezuelana. E os crimes indicam claramente acerto de conta ou queima de arquivo pelo crime organizado que hoje conta com uma facção venezuelana.

Embora a população roraimense tenha crescido e a Capital registrado o maior crescimento populacional das capitais brasileiras proporcionalmente,  o Estado de Roraima detém a menor população do país, mas com registro de criminalidade de qualquer grande centro urbano brasileiro. E isso é de uma preocupação sem precedentes, mas que não chama a atenção das autoridades.

A política roraimense tem um grande número de policiais com mandato nas esferas estadual e federal, o que significa que a Segurança Pública tem servido mais como um projeto partidário para eleger representantes de categorias policiais do que para propor melhorias na segurança do contribuinte e da sociedade de uma forma geral.

Até aqui, não se viu nenhum avanço na estrutura da Segurança Pública para encarar a realidade que se apresenta, ações que vêm sendo resumidas a desfiles de viaturas no Centro Cívico, que significaram mais gastos com aluguel de carros do que com um plano de um Estado que faz fronteira com dois países e que enfrenta uma crise migratória sem precedentes e os reflexos do garimpo ilegal, com suas ramificações no tráfico de drogas e de armas.

O alerta já passou de todos os níveis, sem que haja respostas à altura por parte de autoridades. Enquanto isso, em vez de estar alarmada, a população se diverte com memes de cadeiradas, áudio vazado e outras presepadas políticas de interesses apenas dos grupos locais. O futuro próximo vai cobrar muito caro por essa omissão coletiva.

*Colunista

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