São as centenas de fileiras de terras onde são cultivados cheiro-verde, cebola, alface e couve, no bairro Operário, zona oeste de Boa Vista, que abastecem diariamente o mercado de hortaliças e hortifrutigranjeiros em feiras livres e supermercados da Capital.
A localidade é conhecida como centro da agricultura familiar fora da zona rural. As várias chácaras e lotes de terras de pequenos produtores funcionam como verdadeiros núcleos para a produção dos alimentos que vão à mesa do consumidor boa-vistense.
Segundo o último balanço da Prefeitura de Boa Vista, a produção de hortaliças representa 52,35% do total dos 170 imóveis de uso rural, ou seja, 89 imóveis produzem hortaliças no bairro.
Do total de imóveis do bairro Operário que tem uso rural, 20,6% desenvolve mais de uma atividade rural, bem como tipos associados de produção. Desse total, 14,1% imóveis cultivam hortaliças tanto em estufas como em espaços abertos (horta/estufa), 4,70% cultivam hortaliças e frutas (horta/pomar) e 1,8% cultivam frutas e hortaliças em estufas (estufas/pomar).
Há pouco menos de 13 anos, em meados de 2005, o agricultor Sivildo da Silva, de 65 anos, vendeu o pequeno lote de terra que tinha no interior do Estado e comprou uma chácara no bairro Operário, onde possui produção em larga escala de alface e cheiro-verde. A responsabilidade sobre a produção foi repassada ao genro, Elias Alves, de 38 anos, que também vende os alimentos nas feiras.
“A chácara é do meu sogro e trabalho aqui há três anos. Esses produtos vão todos para a feira, em dias de sábado e domingo, quando a demanda é maior. Calculamos o preço dos produtos de acordo com a quantidade que levamos para a feira. O cheiro-verde, por exemplo, vendemos a R$ 1,00 a unidade. Esse é o preço que é repassado diretamente para o consumidor final”, disse.
Mas, por trás de toda história de superação, existem as dificuldades. E com os agricultores não foi diferente. Eles afirmaram nunca terem tido acesso a políticas públicas de incentivo à produção. “Nunca tivemos incentivo, apenas de Deus e a nossa força de vontade que foi a maior ajuda que tivemos. Não tivemos estudo, não temos técnico para ensinar a gente a plantar e tudo foi por conta própria”, contou Sivildo.
Uma das principais dificuldades que enfrentam é com a irrigação das hortaliças e hortifrutis, que ainda é feita de forma manual. “A irrigação é manual, mas queríamos colocar uma mecanizada. Isso economizaria na mão de obra. Nós vivemos disso aqui e o nosso sustento sai daqui. Nunca tivemos apoio do Poder Público ou de bancos para financiamento, porque sei que não teria condições de arcar. Nós trabalhamos aqui na força bruta porque sabemos que é a nossa única fonte de renda”, afirmou.
No terreno ao lado de onde fica a plantação de Elias e Sivildo, há o cultivo de aproximadamente cinco hectares de cheiro-verde do agricultor familiar José Rodrigues da Silva, o “Zezé”, de 59 anos. “Aqui só foi mesmo a inteligência da gente e ajuda de Deus, que nos dá saúde e coragem. Eu nasci na roça, e agricultura se aprende”, destacou.
O pequeno produtor afirmou que também nunca teve incentivo para a produção, mas que isso jamais o impediu de continuar no negócio. “Aqui temos problemas por conta da falta de estufas, telas e cobertores para as hortaliças. Nós usamos apenas uma tela quando iniciamos a plantação e, quando nasce, nós a retiramos. Apesar da falta de apoio, sobrevivo bem apenas dessa horta”, frisou.
ASSOCIAÇÃO – Vários agricultores que possuem produção no bairro Operário integram a Associação dos Hortifrutigranjeiros de Boa Vista (Aprohvi), que funciona no mesmo local e é responsável por 80% da produção de hortifrutis comercializados na Capital.
Segundo os produtores ouvidos na reportagem, no entanto, há alguns anos as demandas deles deixaram de ser atendidas pela entidade. A reportagem da Folha foi até a sede da Associação para tentar falar com os responsáveis sobre a falta de assistências aos agricultores familiares, mas o prédio estava fechado. (L.G.C)