Empresários do setor madeireiro de Roraima fecharam um trecho da BR-174 localizado na Vila Nova Colina, Município de Rorainópolis, região Sul do Estado na manhã de ontem, 23. O protesto ocorreu por conta de uma operação da Polícia Federal (PF) do Amazonas que interrompeu o fluxo do transporte clandestino de madeira extraída ilegalmente, apreendeu cargas e fechou dois portos responsáveis pelo escoamento da produção.
A Operação Ariquemes, iniciada a partir de um alerta da Receita Federal, reteve 444 contêineres, dos quais 20% já foram periciados. O material apreendido até o momento, se colocado de forma linear, cobriria um percurso de 1.500 quilômetros, o equivalente à distância entre Brasília e Belém, aproximadamente.
Com a carga apreendida e sem ter como exportar o produto para outros países, os empresários tiveram que promover uma demissão em massa de funcionários que trabalham no setor. Ao todo, são 53 empresas do ramo madeireiro paradas apenas em Roraima desde o final do ano passado, quando a PF iniciou a operação.
O protesto, que ocorreu de forma pacífica, iniciou por volta das 8h e centenas de manifestantes fizeram uma barricada com pedaços de madeira na altura do quilômetro 173 da rodovia impedindo a passagem de motoristas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) enviou equipes para o local na tentativa de tentar negociar a liberação, que só teve o tráfego normalizado no início da tarde, por volta das 13h.
Segundo o vice-presidente da Associação dos Madeireiros de Roraima (Amaderr), Primo Chaves, os empresários foram diretamente afetados pela operação da PF, que chamou de “ato irresponsável”. “A PF não está separando o certo do errado, estão desmoralizando o setor. A população que depende da empresa funcionando vai ficar desempregada, porque estão todas paralisadas”, disse.
Segundo Chaves, o Estado exporta mensalmente 220 contêineres de madeira extraída em Roraima a países da Europa, sendo que cada contêiner custa em média 20 mil dólares. “No mercado nacional custa 21 mil reais. Muita gente está sem receber e sem ter como pagar os funcionários”, afirmou.
Chaves negou a existência de irregularidades na extração do produto e na documentação. “Para exportar para Europa é preciso ter cadeia de custódia, projeto de manejo aprovado e autorizado pelo Governo do Estado com o acompanhamento de órgãos ambientais, que não aceitam se a documentação estiver errada. O erro de alguma empresa está causando o dano muito grande em Roraima, Amazonas e Rondônia, que são áreas que necessitam dos portos”, explicou.
O empresário do setor madeireiro, Rafael Mesquita, afirmou que a manifestação também foi motivada pela eminência da falência do setor madeireiro e de todo o comércio de Rorainópolis, que tem sofrido há meses sem a reposição florestal. “Fazemos o aproveitamento da matéria prima e o que for retirado o setor aproveita, produzimos, vendemos para o mercado externo e geramos renda. Mas com a falta de reposição não há como trabalhar, porque são áreas produtivas”, contou.
Conforme Mesquita, o setor movimenta mais de R$ 1 milhão por mês com pagamento de salários a trabalhadores apenas na Vila Nova Colina. “As poucas serrarias que funcionam continuarão trabalhando até o dia 30. O setor é importante, gera divisa, capital externo que entra. Então o prejuízo fiscal, financeiro e humano é grande”, afirmou.
ENTENDA O CASO – Policiais federais e fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibama) identificaram fraudes nos Documentos de Origem Florestal (DOFs), que deveriam atestar a legalidade da extração e da origem da madeira. Dentre as irregularidades, foram encontrados DOFs cancelados ou falsificados, bem como diferenças substanciais entre o atestado nos documentos e o conteúdo dos contêineres, entre elas, volumetria e descrição das espécies exploradas.
Os dois portos localizados no Amazonas, onde se desenvolve a operação, são responsáveis pelo escoamento da quase totalidade da produção de madeira extraída na Amazônia Legal. As madeiras retidas por ilegalidade documental eram originárias de exploração nos estados de Roraima, Rondônia e Amazonas e em torno de 50% delas teria como destino a Europa e os Estados Unidos.
PF/AM – A reportagem da Folha entrou em contato com a assessoria de comunicação da Superintendência da Polícia Federal (PF) do Amazonas, para saber se há previsão para o encerramento da vistoria das cargas apreendidas e a possível liberação das madeiras com documentação legal para exportação, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno. (L.G.C)