Por René Breuel
Quando minha esposa engravidou, uma onda de emoções conflitantes me invadiu. Embora tentasse parecer confiante, a verdade é que a paternidade despertou dúvidas e temores em mim.
Eu questionava se estava preparado para ser pai e se era o momento certo. Medos em relação às novas responsabilidades e mudanças na dinâmica familiar me atormentavam. Sentia uma invasão em minha esfera pessoal e me culpava por não ser tão generoso quanto gostaria. Tudo isso me causava vergonha.
Durante algum tempo, escondi essa agitação interna, mas em uma noite, decidi ser sincero e expor meus medos à minha companheira de vida. Confessei que não tinha certeza se estava preparado para ser pai, devido à falta de tempo e às demandas que um filho traria. Estava disposto a aceitar a ideia de ter filhos, contanto que ela assumisse a maioria das responsabilidades.
Essa confissão desafiou nossa dinâmica como casal. Sempre acreditei em um casamento igualitário, onde minha esposa tivesse as mesmas oportunidades de carreira que eu. Valorizava seu impacto positivo nas pessoas ao seu redor e estava disposto a dividir as tarefas domésticas. Porém, ao perceber que teríamos mais responsabilidades com a chegada dos filhos, senti-me sobrecarregado. Sabia que transferir todas as responsabilidades para ela seria prejudicial ao relacionamento.
Em uma conversa franca, ela me questionou e deixou claro que eu também deveria assumir minha parcela de responsabilidade na criação dos filhos. Suas palavras tocaram meu coração. Percebi que tinha medo, mas desejava ser um pai presente e participativo. Ela também me tranquilizou, segurou minha mão e compartilhou suas próprias inseguranças em relação à maternidade. Compreendi que precisava fazer minha parte. Essa conversa marcou uma virada em nossa jornada.
Percebi, então, que se não estivesse casado com minha esposa, teria mais tempo para mim mesmo. No entanto, não trocaria um minuto ao lado dela por nada. Compreendi que o tempo que ela exigia de mim valia a pena, e isso me fez refletir sobre como seria com nossos filhos.
Essa conversa trouxe à tona a verdadeira essência de nosso relacionamento. Embora minha esposa demandasse tempo, amava cada minuto que passávamos juntos. Agora conseguia imaginar que sentiria o mesmo amor e gratidão com nossos filhos. Eles certamente exigem o meu tempo, mas estou certo de que cada momento ao lado deles é uma dádiva.
*René Breuel é um escritor paulistano que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai (Mundo Cristão), possui mestrado em Escrita Criativa e em Teologia. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV