OPINIÃO

Escola não é quartel, aluno não é soldado

Walber Aguiar*

Farda não mede o caráter de quem quer que seja…

Em se tratando de escola, de modelo pedagógico, não há nenhum sistema totalmente confiável. O modelo atual, marcado pela corrupção e pela má gestão, em muitos casos, entrou em colapso, por não saber como lidar com a psique, com a alma deformada dos alunos e seu potencial para a marginalidade.

No entanto, embora o sistema educacional e seus gestores tentem validar o desgastado quadro e educar para o “progresso”, farda não é sinônimo de caráter, uniforme não faz a mágica de mudança de comportamento.

Impotentes diante de uma criação pulverizada pela mídia e pelos maus exemplos de uma modernidade líquida, dos valores invertidos, que se liquefazem e somem pelos esgotos da tragicidade sem ética e niilista, a família empurra para a mão pesada das escolas militares o projeto de filho que pensam construir.

No entanto, nenhum projeto muda o ser quando o mesmo não quer ser transformado. Há relatos de denúncias nas escolas militarizadas, que vão da pedofilia ao bullying e ao excesso de disciplina e legalismo de usos e costumes. Isso faz com que professores sejam constrangidos e alunos tornem-se seres sem criatividade e fragilizados pelo modelo quartelar que os transforma em soldadinhos de chumbo domesticados pelo sistema.

Nem Deus criou seres autômatos, que obedecem cegamente, teleguiados pelos controles remotos do autoritarismo e da arbitrariedade. O caráter vem de berço, a escola é apenas um instrumento onde o mesmo, em contato com o conhecimento e os valores, se aperfeiçoa.

Escola não é quartel, aluno não é soldado, no entender do poeta Eliakin Rufino. Fui militar, servindo na base aérea de Manaus, e vi muito recalque fardado e arbitrariedade de uniforme.

Respeito a opinião de quem estuda nessas escolas e põe ali seus filhos, mas meus meninos e alunos nunca vão precisar de uma escola dessas.

*Poeta, professor de filosofia, historiador, Mestre em Letras e membro da Academia Roraimense de Letras

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV