AFONSO RODRIGUES

Acenda a lanterna

“A experiência é uma lanterna pendurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido”. (Confúcio)

Não tenho dúvida que a experiência é realmente uma lanterna. Ela nos leva a momentos inesquecíveis, do passado, tanto do lado excelente quando do lado simples. Mas se todos estão nas nossas costas, estão nas nossas lembranças. Acordei hoje sorrindo com uma lembrança simples, mas que me deixou e deixa feliz. Não pelo valor material do ocorrido, mas pela felicidade no riso da dona Salete, no momento ocorrido. Já falei pra você do quanto adoro o paraíso que é a Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo. A lembrança dos três anos que vivi na Ilha, bem recentemente, nunca se apagará de minha memória. E por isso não deixa de ser uma experiência que ficará pendurada nas minhas costas.

As caminhadas, tanto pela praia quanto pelas ruas da Ilha nunca sairão dos meus pensamentos. Naquela tarde gostosa, depois de uma chuvinha também gostosa, saímos do supermercado e entramos na Rua Roraima, com destino ao nosso apartamento na Rua São Paulo. Já na metade da rua, a Salete pegou no meu braço e falou quase gritando:

– Peraí…peraí! Eu acho que é…

Ela soltou me braço e voltou uns dois metros, e pegou algo que estava debaixo de umas folhas secas, molhadas pela chuvinha. Ela levantou os objetos achados e ficou pulando de alegria. Eram duas cédulas. Uma de cinquenta reais e outra de dez reais. O que ela fez com aquele dinheiro nem imagino. Mas sei que foi um alívio pra mim e que nunca irei esquecer. Estará sempre pendurado no meu ombro, como uma experiência simples, mas benéfica. Às vezes são os momentos mais simples da vida que nos fazem feliz a vida toda. Naquele achado há uma importante coisa que deve ser observado. A alegria foi provocada por sessenta reais achados na rua, que não tem tanto valor material assim. Mas tem um valor espiritual enorme. A alegria no achado não é tão importante quando a no acontecimento estranho; início de tarde, numa rua praticamente deserta, e que eu passei por cima sem perceber.

Cuide-se, cara, porque sua mulher tem um senso de observação muito mais aguçado do que o seu. Ainda bem que o da Salete foi bem mais esperto do que o meu. Mas a esperteza nem sempre está nos achados simples pelas ruas, mas na convivência, no dia a dia. E olha que nossos dias, meus e dela, já vêm de muito longe. Fique atento, cara. Não caia na besteira de pensar que ela não está de olho em você. Mas não se esqueça de guardar e manter em suas lembranças coisas e acontecimentos simples que lhe faz feliz em momentos simples de sua vida, enriquecendo-a. Pense nisso.

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