JESSÉ SOUZA

O assistencialismo e a caveira que está dentro do armário dos políticos

Política assistencialista foi implantada em Roraima na década de 1980 como uma prática oficial (Foto: Divulgação)

Querem esconder o esqueleto do assistencialismo dentro do armário. Formou-se um coro uníssono de políticos governistas para tentar desqualificar a cassação do governador Antonio Denarium sob a alegação de que a farta distribuição de cesta básica foi uma política de assistência social, e não uma ação deliberada para tirar proveito dentro de uma política puramente assistencialista. Aos fatos.

A política de assistência social é um direito de qualquer cidadão e um dever do Estado visando proteger e promover o desenvolvimento de pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social. Já a política assistencialista até se disfarça de uma ação social, mas tem ela a finalidade de explorar a situação de vulnerabilidade dos mais necessitados para tirar proveito eleitoreiro ou promover politicamente aqueles que se colocam como benfeitores.

A população roraimense conhece muito bem o assistencialismo bem de perto, quando era incentivado a ir para as filas da distribuição de buchada de boi, de peixe, dos presentes de Natal e de brindes em datas comemorativas, a exemplo do Dia das Mães. Isso está bem fresquinho na memória de quem viveu na década de 1980, quando o assistencialismo foi implantado oficialmente como política do então governador Ottomar Pinto.

Naquela época, não eram apenas os roraimenses pobres levados para o curral do assistencialismo, mas também os migrantes da época, os nordestinos, especialmente os maranhenses que chegavam em massa, os quais eram convertidos imediatamente em eleitores nas longas filas da transferência de títulos eleitorais.

Hoje, o argumento era de que as cestas básicas distribuídas principalmente em anos eleitorais serviam aos venezuelanos, os quais são os migrantes atuais que chegam em massa no Estado. Mas os venezuelanos não votam e, por isso mesmo, eles sempre foram excluídos de quaisquer ações governamentais. Nunca os venezuelanos estiveram nos discursos de candidatos em campanha, muito menos em propostas governamentais.

Para se ter uma noção da clara proposta de desenterrar a política assistencialista implantada na década de 1980, este ano o Governo do Estado colocou as pessoas na fila do peixe, em ação que inclusive  incentiva que mais imigrantes decidam vir em busca do assistencialismo fácil.

Que a decisão que cassou o governador, tomada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TER), possa fazer as pessoas refletirem sobre o poder de colocar em prática uma massiva campanha assistencialista, especialmente em ano eleitoral.  Porque os políticos não querem que o povo pense assim, por isso tentam confundir sobre o que é assistencialismo e o que é uma ação social.

Eles sabem que várias eleições foram ganhas assim, na base do assistencialismo, ou usando dinheiro vivo ou sacado na boca do caixa, a exemplo do maior e mais bem bolado plano de todos os tempos: o “Caso Gafanhoto”. Mas essa é outra história que completou 20 anos…

*Colunista

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