JESSÉ SOUZA

No limbo da periferia política e o padre que vai salvar o país do comunismo

Padre Kelmon veio lançar a Diretoria Regional do Foro do Brasil em Roraima (Foto: Divulgação)

O acontecimento político mais expressivo da semana que se passou foi a presença do Padre Kelmon para o lançamento da Diretoria Regional do Foro do Brasil em Roraima, um movimento que se autointitula como um contraponto ao Foro de São Paulo. Só o fato de o personagem principal desse novo movimento ser uma figura caricata, que saiu de um debate presidencial como um meme, já mostra que isso não se pode levar a sério.

Roraima tem dessas coisas, como se fosse uma periferia política para onde figuras que buscam alguma expressão nacional tentam cavar um espaço qualquer. O eterno “candidato padre”, também chamado de “padre de festa junina”, é apenas mais uma dessas figuras que se aproveitam da periferia que vive em um limbo cheio de oportunismo.

Na verdade, o momento é mesmo oportuno para estes acontecimentos, uma vez que o Estado vive a realidade de mais um governador cassado e, por tabela, notícias que circularam em nível nacional nada abanadoras para a nossa classe política. A começar pela matéria divulgada sobre um ministro que tinha a esposa ganhando um alto salário na Câmara dos Deputados sem trabalhar, a qual pediu demissão após notícia circular na grande imprensa.

Tal situação nem alarma mais, pois são recorrentes casos de familiares de políticos e até mesmo políticos sem mandato recebendo sem trabalhar, especialmente em gabinetes parlamentares e em estatais sob a ingerência de políticos dentro da velha política do toma-lá-dá-cá, conforme denúncias que circulam em grupos de compartilhamento de mensagens, as quais nunca ganham eco na imprensa.  

Da mesma forma que ninguém se sobressalta com mais um caso de governador cassado, cujo motivo também é tratado na maior naturalidade, a distribuição farta de cestas básicas. Afinal, nas duas últimas décadas o roraimense viveu o desenrolar de cassações que meteram o Estado em um atraso político o qual sentimos os reflexos até os dias atuais, mesmo que muitos não percebam isso.

Talvez por isso os políticos continuam agindo nesse limbo político no qual eles meterem o Estado, jogando para a plateia as cenas caricatas de um padre que ficou famoso apenas por fazer escada durante os debates presidenciais nas eleições passadas, mas hoje tratado como se fosse um personagem político de primeira grandeza.

Dentro desse cenário de pasmaceira do momento atual, a cena mais caricata da política roraimense pode ser vista no Km 70 do trecho norte da BR-174: um grupo de quatro venezuelanos aterrando buracos na principal rodovia roraimense, fazendo um trabalho braçal que deveria estar sendo feito emergencialmente pelo governo com suas máquinas.

Sendo assim, merecemos mesmo o “candidato padre” vindo se passar por um personagem político que pretende salvar o Brasil do comunismo…

*Colunista

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