25 ANOS DA EXPEDIÇÃO

Dia Estadual do Monte Caburaí reflete revisão histórica do extremo norte do Brasil

Expedição que reconheceu o monte com 84,5 quilômetros acima do Oiapoque, no Amapá, completa 25 anos

Monte Caburaí fica no Município de Uiramutã, na fronteira com a Guiana (Foto: Platão Arantes)
Monte Caburaí fica no Município de Uiramutã, na fronteira com a Guiana (Foto: Platão Arantes)

O reconhecimento do ponto mais extremo do Norte do Brasil completa, nesta sexta-feira (08), 25 anos devido a Expedição ao Monte Caburaí, realizada em 1998. Para os roraimenses, é uma honra ser e estar com o reconhecimento de ser o extremo do Brasil.

No entanto, mesmo depois de 25 anos, o país adentro ainda utiliza a expressão “do Oiapoque ao Chuí”, que, assim como a famosa frase “É Roráima, e não Rorãima”, é sempre corrigida pela visibilidade ao estado como Caburaí o ponto mais alto. Mas por que é difícil assimilar o feito?

A confirmação de que o Caburaí ficava 84,5 quilômetros acima do Oiapoque, no Amapá, ocorreu na expedição organizada pelo jornalista Platão Arantes e pelo prefeito de Uiramutã, à época, Venceslau Brás Barbosa da Silva. Essa ida ao monte foi inspirada na expedição de Marechal Cândido Mariano Rondon, realizada por volta de 1930, na qual já havia colocado marcos na região.

De acordo com o historiador Reginaldo Gomes, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), a demora para o reconhecimento do Monte Caburaí foi influenciada pelo processo de colonização e demarcação do país, que privilegiou o litoral, e a Segunda Guerra Mundial, que atrasou as pesquisas na região.

“A literatura histórica privilegia a colonização do litoral para o interior. Então, no litoral, o Oiapoque é o ponto mais extremo. No entanto, temos o ponto mais setentrional no interior, que é o Monte Caburaí. Também temos nesse processo histórico a Segunda Guerra Mundial, que trouxe uma série de diferenças nas relações do mundo e até mesmo do Brasil. E a temática amazônica, apesar de Getúlio Vargas querer dar atenção, inclusive ele esteve na região na década de 1940, essa fronteira foi esquecida e nós acabamos discutindo muito mais a fronteira entre o Brasil e a Venezuela, aquela região de Pacaraima”,

explica o historiador.

Para o jornalista pernambucano Arantes a falta apoio institucional e até da população. Ele lamenta que o local não receba o mesmo reconhecimento que outros pontos turísticos importantes do país. “Em qualquer outro estado, já teriam erguido monumentos e feito referências a ele. Mas, aqui, não há nem mesmo um chaveiro”, desabafou.

À época, Platão Arantes acompanhou comissões para definir os futuros municípios de Roraima, quando viu as marcações. (Foto: reprodução/Nonato Sousa/ALE-RR)

Incentivo ao Monte Caburaí

Para dar visibilidade ao feito de reconhecimento, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), aprovou a Lei nº 992/2015, que instituiu o 8 de setembro como o Dia Estadual do Monte Caburaí. A data é uma homenagem à expedição de 98 e à importância histórica do monte de 1.465 metros de altitude, no município de Uiramutã, na fronteira entre o Brasil e a República Cooperativa da Guiana.

“Fico feliz com a aprovação da lei que reconhece o Dia Estadual do Monte Caburaí, mas é preciso ir além. Precisamos de ações concretas para divulgar o ponto, incluindo o desenvolvimento do turismo, do comércio e da educação sobre o tema. Por isso é fundamental que órgãos estaduais, federais e universidades trabalhem juntos para que essa importante região seja mais conhecida”, disse o também professor da UFRR, Reginaldo Gomes.

Professor e historiador Reginaldo Gomes reforçou a necessidade de mais incentivo e visibilidade ao Monte Caburaí. (Foto: reprodução/Nonato Sousa/ALE-RR)

Já Platão, divulga a expedição de várias formas, principalmente em uma canção de sua autoria, que ensina. de forma simples e divertida, onde fica o extremo norte do país.

“No passado, o que aprendemos foi difícil de mudar. O extremo norte do Brasil estava no Amapá. Do Oiapoque ao Chuí, todos queriam alcançar. Todo mundo ‘tava’ errado. Agora vou te ensinar. É do Caburaí ao Chuí. Oiapoque era o extremo. Ninguém podia duvidar, mas em 1998 isso começou a mudar. O Brasil agora canta: ‘Você sabe aonde ir? Se o destino é o extremo norte, o certo é o Caburaí.'”

diz a letra da música.

A expedição

Platão Arantes é pernambucano e se mudou para Roraima em 1993. Na época, passou a trabalhar na Assembleia Legislativa, onde teve a oportunidade de participar de comissões que percorreram o estado para analisar as regiões onde poderiam ser criados novos municípios. Foi aí que ouviu relatos de marcos antigos colocados pelo Marechal Cândido Mariano Rondon na região, numa caravana em 1936.

“Quando chegamos ao malocão I, eu vi um tipo de adaga enfiado na palhoça. Curiosamente, perguntei ao indígena, que explicou que Rondon a entregou quando veio demarcar o Monte Caburaí. Fui e comentei isso na fazenda do Galego, que já faleceu, e o Brás, que era genro dele, estava do lado. Eu sugeri que poderíamos reverter a questão fazendo uma expedição científica e enviando os resultados para as autoridades competentes”, disse Arantes, revelando o que o inspirou a planejar a incursão.

Em 2005 novo marco foi construído no local das primeiras marcações do Marechal Rondon. (Foto: Platão Arantes)

Em 1997, quando Venceslau Brás tomou posse como o primeiro prefeito de Uiramutã, o jornalista foi convidado a ser secretário de Turismo e Meio Ambiente para implementar o projeto do Monte Caburaí.

A expedição foi realizada de 3 a 6 de setembro de 1998, com a participação de cerca de 80 pessoas, incluindo militares, jornalistas e pesquisadores de diversas instituições, como o Exército, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Governo do Estado, Assembleia Legislativa e a UFRR.

Mesmo com o monte já tendo sido demarcado em 1933 pelo capitão de mar e guerra Brás Aguiar, chefe da Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, o marco do Monte Caburaí só foi oficializado em 2005. O Ministério das Relações Exteriores realizou uma outra expedição com representantes oficiais do Brasil e da Guiana.

*Com informações da ALE-RR