Recentemente, a organização mundial da saúde (OMS) publicou novas diretrizes com recomendações para limitar o consumo de “açúcares livres”, ou seja, carboidratos simples que são adicionados artificialmente durante o processamento industrial dos alimentos.
A OMS afirmou que o consumo de mais de 10% do total de calorias diárias na forma destes compostos pode levar ao aumento de obesidade, doenças não transmissíveis (diabetes, hipertensão, etc.) e cáries dentárias.
Uma recomendação opcional é feita para limitar este total a não mais de 5%. A associação entre ganho de peso e obesidade já é bem reconhecida, mas o papel do açúcar, consumido em quantidades cada vez maiores desde os anos 1970, como gerador de obesidade e diabetes ainda é assunto de grande controvérsia.
De acordo com o médico César Penna, a diabetes é popularmente conhecida como o aumento do “açúcar no sangue”, e por isso é bem frequente o raciocínio dos pacientes de que um maior consumo de açúcar é o principal fator gerador da doença.
“A confusão aumenta com o fato de que, na maioria dos estudos com grupos menores de pacientes, o papel do ganho de peso, seja este associado ao consumo excessivo de açúcar ou não, é o fator dominante para aparecimento de diabetes”, relata.
Fatores adicionais como história da doença na família, estresse, medicamentos e muitos outros podem modificar o risco individual. Maior ainda, se associado ao sedentarismo.
“Assim, é corriqueiro que os médicos desmintam essa associação entre açúcar e diabetes, e passem a dar mais ênfase ao controle de peso e prática de atividades físicas regulares”, diz.
Então, como conciliar essa visão com as preocupações da OMS?
Uma possibilidade bastante plausível é a seguinte: do ponto de vista individual, muitos fatores altamente variáveis competem para o aparecimento de diabetes, sendo o ganho de peso aquele com maior preponderância.
Por outro lado, várias pesquisas feitas com dados populacionais encontraram associação significativa entre maior consumo de açúcar e doenças crônicas, inclusive, diabetes.
Um interessante estudo feito por pesquisadores da Califórnia avaliou dados de 173 países, provenientes de dados oficiais (urbanização, PIB per capita, industrialização, envelhecimento, incidência de diabetes) e da FAO (consumo alimentar de fibras, proteínas, álcool, açúcar refinado e outros), bem como sua evolução durante o período de 2000 a 2010.
Após uma análise estatística cuidadosa e bastante repetitiva, o consumo de açúcar foi relacionado a maior incidência de diabetes, de forma independente da obesidade, sedentarismo e consumo de álcool.
Tempo mais longo de exposição ao maior consumo de açúcar teve resultados semelhantes.
Os autores tiveram ainda o cuidado de separar países onde o consumo de açúcar diminuiu durante o período, verificando que nestes a incidência de diabetes também caiu.
Ou seja, do ponto de vista mais coletivo, onde os fatores individuais são menos importantes, o consumo excessivo de açúcar pode aumentar o número de novos casos de diabetes.