Há muito tempo que os políticos têm o Sul de Roraima como estratégico para as suas campanhas eleitorais, até porque o Município de Rorainópolis é o segundo maior colégio eleitoral roraimense, obviamente depois da Capital, Boa Vista. É estratégico para captação de votos, mas nunca para apresentar àquela região, que fica mais perto do Amazonas do que para as demais regiões do Estado, um projeto de desenvolvimento.
Foi assim, pensando apenas em captar votos, que alguns políticos tradicionais que seguem no poder até hoje conseguem alcançar votação suficiente para os seus propósitos partidários e de grupo. E são eles que se tornaram uma espécie de coronéis da velha política, que abonam as eleições de prefeitos e vereadores, os quais são seus subordinados e que a seus chefes devem dizer “amém”.
Mediante os fatos, a região Sul segue historicamente com as mesmas mazelas, seja inverno ou verão, e seja sob qual cor partidária alcance as chaves dos cofres públicos no Palácio Senador Hélio Campos. Mas um novo cenário começou a se desenhar nos últimos anos, especialmente a partir da ausência quase que completa do poder público local.
O vácuo institucional permitiu a construção de um poder paralelo advindo não apenas do Estado vizinho e do Pará, especialmente madeireiros, facções criminosas e o tráfico de droga internacional. As últimas operações policiais, com grandes apreensões de drogas, mostram a ponta da grande bomba que começou a ser montada por lá.
O obviamente que a política partidária começou a se moldar para sobreviver e se reinventar a este novo cenário, em que a população continua desassistida e desesperançada, mas dentro de uma realidade em que os políticos locais ficam mais ricos e em que outros poderosos começam a dar as ordens. E foi assim que políticos amazonenses começaram a migrar para Roraima – e com certo êxito.
Já existe uma grande movimentação antecipada dos grupos para disputar as prefeituras do Sul de Roraima, especialmente Rorainópolis, estratégico não somente porque é o segundo maior colégio eleitoral, mas por abrigar a nova realidade que está sendo construída por lá, onde fazendas e outras grandes propriedades abrigam os interesses dos novos poderosos que emergiram nos últimos anos.
Enquanto isso, as velhas práticas seguem por lá para captar votos. A decisão da Justiça Eleitoral, que cassou o mandato do prefeito de São Luiz do Anauá, James Batista, é o exemplo cabal. Ele perdeu o mandato por distribuir cestas básicas, dinheiro e viagens turísticas para o povo. Nada de novo dentro de um Estado que tem o governador cassado também por distribuição farta de cesta básica e que responde a outros processos por abuso de poder na compra de voto.
As eleições no Sul do Estado devem ser alimentadas por essas disputas entre o novo poder paralelo e os antigos coronéis, pela cassação de mandato e a farta compra de voto. E o povo deverá esquecer novamente que, historicamente, está abandonado pelo poder público e punido pela ausência de um projeto de desenvolvimento. Talvez até esqueça também das operações policiais que já ocorreram por lá e que ainda deverão ocorrer.
*Colunista