Cotidiano

Estratégia de interiorização tem grandes chances de sucesso, acredita Acnur

Para o porta-voz da instituição no Brasil, Luiz Fernando Godinho, as ações, se planejadas de forma correta, podem resultar em um acréscimo na mão de obra qualificada no país

A estratégia de interiorização dos venezuelanos apresentada pelo Governo Federal tem sido bem avaliada pela Agência das Organizações das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (Acnur). A organização acredita que a ação pode resultar em um acréscimo na mão de obra qualificada no país, contanto que seja feita de forma coerente e atendendo às necessidades dos estrangeiros e dos estados aptos a recebê-los.

Segundo o porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, a Acnur apoia a decisão, pois reconhece que o peso é muito grande sobre o Estado e sobre os serviços oferecidos na região. “Não há uma capacidade de absorção dessas pessoas no mercado e economia local. Se esse processo de realocação, de interiorização, acontecer de uma maneira ordenada, tem grandes chances de ser bem-sucedido. As pessoas que têm formação têm capacidade de trabalhar no Brasil e agregar economicamente com o país”, avaliou.

O porta-voz esclareceu que, desde que a decisão foi anunciada pelo Governo Federal, a Acnur vem trabalhando em um levantamento com os estrangeiros para analisar a recepção da notícia. O trabalho foi iniciado no abrigo localizado no Tancredo Neves. No último final de semana, a Acnur conseguiu finalizar uma checagem geral, em parceria com o Ministério da Saúde e a Prefeitura de Boa Vista, em que aproximadamente 300 venezuelanos já estariam prontos para deixar Boa Vista.

“Já com a documentação, todo o check-up médico, faltando apenas o tempo de maturação das vacinas para que possam viajar pelo país normalmente. Em Boa Vista, o nosso trabalho tem sido de identificar as pessoas no sentido de prepará-las para essa viagem e, por outro lado, também no sentido de aprender onde existe uma melhor capacidade de recepção dessas pessoas”, afirmou.

OUTRAS AÇÕES – Além do levantamento, a Acnur ressalta que continua o seu trabalho em parceria com a Polícia Federal no monitoramento das fronteiras e no registro das pessoas que entram no país. “A PF tem uma capacidade de atender 150 pessoas por dia, mas o número que passa pelo órgão é muito maior. Então, nós disponibilizamos voluntários e estagiários para auxiliar a PF a receber essas pessoas, dar um pré-atendimento, explicar as soluções que elas têm e ajudar no preenchimento de documentos”, explicou.

A administração nos abrigos também tem sido parte da função da Acnur em Roraima, com o auxílio ao poder público e as organizações não governamentais na gestão dos abrigos do Pintolândia e de Pacaraima. “É um trabalho mais silencioso, tratar do acompanhamento dos venezuelanos, das questões que surgem no dia a dia e ao tentar solucionar cada uma delas, mas temos trabalhado nessa questão intensamente”, reforça Godinho.

MIGRANTES X REFUGIADOS – A Acnur ressalta ainda a diferenciação entre as denominações de pessoas migrantes e refugiados. Para Godinho, o que se vive em Roraima é uma situação de recebimento de refugiados e não de migrantes. “Cada vez mais as pessoas têm deixado a Venezuela não só por questão econômica, de emprego, que é o que determina a migração. As pessoas também estão vindo por se sentirem ameaçadas e se sentirem de alguma maneira perseguidas pelos grupos políticos. É importante ressaltar essa característica que é claramente de um refugiado e atender às normas e tratados políticos feitos no país e no mundo para atendimento dessas pessoas”, frisou. (P.C.)