Precisou mais uma pessoa morrer de acidente de trânsito no meio da buraqueira do trecho norte da BR-174 para que as autoridades começassem a pedir providências em relação à recuperação da principal rodovia de Roraima. Com quatro anos de atraso, a Defensoria Pública da União (DPU) enviou um ofício ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) cobrando obras emergenciais.
Mas se trata de desconhecimento por parte das autoridades a respeito das precárias condições daquela rodovia. Três dias depois da morte de uma consultora da Organização Internacional para as Migrações (OIM) das Nações Unidas (ONU), vítima do capotamento do veículo em que ela estava, o governador Antonio Denarium viajou de carro pelo trecho norte da BR-174 em direção ao Município do Amajari, onde cumpriu um dia de agenda.
Com certeza, Denarium presenciou a penúria total do trecho entre Boa Vista até o Amajari, tomado por imensas crateras. E igualmente certeza que viu um grupo de três ou quatro venezuelanos tapando os buracos com piçarra que eles retiram na base de picareta das margens da estrada em troca de qualquer ajuda. Geralmente, motoristas que passam deixam algum dinheiro e até mesmo cestas básicas.
É o mesmo trecho que estava sob responsabilidade do Governo do Estado, por meio de um convênio com o Dnit, cuja obra foi negligenciada para mais tarde ser completamente abandonada. Nas eleições passadas, um então senador passou por lá para gravar um vídeo dizendo que o governo estava trabalhando a todo vapor antes do período eleitoral.
Também naquele mesmo trecho foram erguidos outdoors com a foto de parlamentares que se enalteciam por ter destinado verbas para a recuperação daquela rodovia. Se a propaganda não tivesse sido arrancadas, hoje serviria para mostrar que esses mesmos políticos foram omissos por não terem fiscalizado e cobrado os governos pela não execução das obras.
O que o governador viu pessoalmente, na viagem de sexta-feira, acompanhado de seus séquitos, é a expressão máxima da vergonha que se tornou a principal rodovia federal do Estado, cujo serviço de tapa-buraco quem está fazendo são venezuelanos que fugiram da miséria de seu país, serviço este que poderia estar sendo feito emergencialmente pelo mesmo governo que permitiu a estrada chegar às atuais condições.
O governador também pôde constatar que as obras de recuperação da RR-203, a principal rodovia que atravessa todo o Município do Amajari, também está sendo feito a toque de caixa e, em boa parte, os buracos sendo tapados com barro. Como já se sabia que o governador percorreria parte daquela estrada, trataram de agilizar um tapa-buraco a partir da Vila Três Corações.
Infelizmente, essa foi realidade vista, também, por centenas de turistas que foram para a Serra do Tepequém de carro, no fim de semana, para participar de uma maratona. A reclamação foi geral a respeito da situação da BR-174. Apesar de Tepequém ser uma vitrine, as autoridades nem se sentem incomodas com a precariedade das estradas de acesso. E fingem que está tudo bem enquanto as pessoas seguem morrendo de acidentes.
Essas mortes devem ser creditadas na conta não só dos políticos roraimenses e governantes, mas também dos órgãos fiscalizadores que até agora não tomaram medidas mais austeras com relação ao descaso com a principal rodovia roraimense. Quantas vidas precisarão ser perdidas até que tomem providências?
*Colunista