JESSÉ SOUZA

Procura-se uma extremamente rara espécie de maracujá da região amazônica

Flor do maracujá Passiflora amicorum fotografada no Parque Nacional Canaima, na Venezuela, por Miguel Molinari

Se você, caro leitor, especialmente quem gosta de acampar ou fazer trilhas, por acaso já viu a flor da foto que ilustra este artigo, então pode se considerar um privilegiado e, o mais importante, ainda pode dar uma contribuição inestimável para a ciência. Trata-se de uma flor do maracujá conhecido cientificamente como Passiflora amicorum, com apenas três citações de pesquisadores, portanto, comprovadamente é extremamente rara.

A espécie pode ser encontrada apenas em áreas inóspitas de toda região amazônica, o que dificulta e limita o levantamento biológico a pouquíssimas estradas que cortam nossa imensa região. Cresce como um grande cipó na vegetação rasteira da floresta antiga, cujos relatos indicam que a planta vive em solos derivados de arenito. É uma endêmica amazônica encontrada em área de pré-montanha, área ribeirinha e floresta primária em altitudes entre 800 a 1.200 metros.

A Passiflora amicorum foi encontrada no sertão amazônico do sul da Venezuela, dentro dos estados de Bolívar e Amazonas, nos místicos Tepuis do Parque Canaima, os quais são grandes e antigas formações areníticas. A citação mais recente do encontro da espécie foi em um local a 4 km ao norte de El Pauji, perto da fronteira Venezuela-Brasil, onde foi visto ao longo de uma trilha florestal que leva até o Tepui de Uaipaur. Anteriormente foi vista dentro da Reserva Imataca, próximo da fronteira entre a Venezuela e a Guiana.

Logo, essa espécie de maracujá pode ser encontrada pelas regiões serranas de toda a região Norte e Nordeste de Roraima, incluindo as serras de Pacaraima e de Tepequém, onde há muito trânsito de turistas. E a contribuição para a ciência está em, caso se depare com esta flor, a pessoa pode entrar em contato com pesquisadores da Embrapa local ([email protected]), que estão empenhados em localizar o maracujá para pesquisa e reprodução da espécie a fim de que não seja extinta.

Na verdade, é uma corrida contra o tempo, pois a cada ano os incêndios e queimadas podem dar fim aos últimos exemplares que possam existir em Roraima. Como já sabemos, as primeiras semanas de forte estiagem na região Norte do Estado, este ano, foram suficientes para demonstrar a ineficiência dos governos locais de responderem imediatamente aos incêndios e queimadas descontroladas. Desde a semana passada o fogo está destruindo matas nativas e o cerrado na Serra do Tepequém, no Município do Amajari.

Portanto, um olhar mais atento dos aventureiros e moradores de regiões serranas de Roraima poderá levar ao encontro desse maracujá raro da região amazônica, contribuindo sobremaneira para a continuidade da espécie e os estudos sobre a planta. É importante destacar que os povos indígenas faziam uma cataplasma com as folhas da planta do maracujá para acelerar a cicatrização de contusões. E, na Primeira Guerra Mundial, o maracujá foi utilizado como ajuda no tratamento de angústia própria de guerra.

*Colunista

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