BRASIL E VENEZUELA NO MMA

Com força à América Latina, lutador representa dois países pelo cinturão do Jungle Fight

Isai Ramos tem sequência de quatro vitórias dentro do campeonato e se prepara para trazer o cinturão em novembro

Isai Ramos tem 22 anos e ganhou cinturão da Copa Norte 2021. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Isai Ramos tem 22 anos e ganhou cinturão da Copa Norte 2021. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Isai Ramos é um jovem de 22 anos, natural de Barcelona, na Venezuela, que mora em Boa Vista e pode ser a promessa de sucesso dentro do mundo das artes marciais mistas. Acontece que Ramos tem “força” para ganhar de grandes lutadores, o que tem feito se destacar rápido no MMA.

O lutador é campeão da Copa Norte 2021 e atualmente disputa o Jungle Fight, considerado o maior campeonato de MMA da América Latina. Com a sequência de quatro vitórias dentro do campeonato, Isai representará o estado de Roraima e a Venezuela na disputa pelo cinturão, em 23 de novembro, em Sergipe.

Com força, mas sem técnica

Apesar do atual sucesso, o jovem vem de uma caminhada de muito trabalho, treino e realidade político-social da Venezuela. Isai é um lutador que cresceu em uma periferia de Maturín e aos 16 anos, enquanto cursava Educação Física em uma universidade, foi chamado para participar de lutas amadoras.

“Um parceiro estava treinando e eu comecei a participar das lutas. O meu primeiro treinador, Felipe Artrano, falou para mim: ‘para lutar tu é muito ruim, mas tem muita força. Se seguir, vai melhorando’. E eu comecei a treinar eventualmente, uma semana sim e duas não”, relembra Isai.

Isai Ramos em uma das lutas do Jungle Fight, contra . (Foto: arquivo pessoal)

Em 2019, após a primeira luta, que aconteceu em sua cidade natal, foi convidado a lutar no profissional. No entanto, por não estar preparado o suficiente, sofreu com a primeira derrota.

“Eu cometi um erro de lutar profissional diretamente do amador. Lutei uma vez no amador e já dei um salto para o profissional[…] Em Cumaná, eu lutei com um cara que tinha 15 lutas, de 32 anos, e eu acabava de fazer 18. Eu estava ganhando a luta pela minha força, mas não tinha técnica e em um soco [no queixo] eu caí no chão e levantei, com isso, pelo acordo de eu ser novo, perdi. Fiquei muito triste. Saí de uma vitória para uma derrota”.

Dedicação pela luta

Após a derrota, a filha do jovem nasceu e ele tentou seguir com uma rotina de treinos, mas, com a crise no país, trabalhava mais de 12 horas para conseguir renda e logo em seguida a pandemia também o afetou ainda mais. Com um amigo que treinava em Boa Vista, pediu para ele ajudar a conseguir uma academia que tivesse o esporte e decidiu tentar a sorte em Roraima, em janeiro de 2021.

“O Isai chegou na nossa academia, na nossa equipe através de outro atleta que levou ele, querendo treinar. Ele fez o primeiro treino e a gente viu que ele era uma pessoa diferenciada pelo tamanho e pela força. Com o tempo a gente foi vendo a dedicação dele: vivia só para trabalhar e treinar. Ele vinha de longe, de bicicleta, às vezes vinha correndo, mas não faltava treino”, relata o dono da GT Academia, Jederson França.

Isai e seu primeiro cinturão da Copa Norte de MMA 2021. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Na capital, Isai conta que passou a trabalhar como ajudante de pedreiro para conseguir pagar as mensalidades da academia, que atualmente é sua patrocinadora. “Saía de casa, no Raiar do Sol, para o trabalho no Caçari e vinha treinar no Cidade Satélite, até às 22h”, disse o lutador.

Com tamanha determinação, Jederson indicou o jovem para a Copa Norte de 2021. Depois de várias vitórias seguidas, lutou contra Everton Vasconcelos, no estado do Amazonas, e garantiu o cinturão com 30 segundos de luta.

“Ninguém dava nada por mim, até o comentarista da luta estava falando que o favorito para ganhar era o Everton. Mas quando falaram isso na luta, durou 30 segundos, o cara já estava batendo a mão”.

Mudança de vida

Agora, após tantas vitórias, incluindo as mais recentes do Jungle Fight, o jovem pretende trazer o cinturão para o estado de Roraima e mostrar que é possível alcançar seus sonhos. Isso porque, “lá [na Venezuela], não é possível ter sonhos” por falta de apoio.

“Eu fiz a minha estratégia certinho e agora recebi a oportunidade de lutar pelo título. Minha vida mudou, estou recebendo um salário só para treinar e penso que eu aprendi muito com os comentários negativos. Por mim, o talento eu ainda não tenho, mas com o trabalho duro vou melhorar e garantir um futuro melhor para a minha filha”.