Quem matou Jesus Cristo foi a política. Essa mesma política que os falsos religiosos de hoje insistem em misturar com religião. Aos tarados por citações bíblicas, está tudo lá em Marcos 15.6-15, A21, narrando que, por ocasião da festa de Páscoa, era costume do governador da Judeia, Pôncio Pilatos, soltar um preso que o povo judeu pedisse. E havia um homem chamado Barrabás, um cruel assassino, quel foi escolhido por aclamação da multidão para ser solto, sob a incitação dos sacerdotes, e para que Jesus Cristo fosse crucificado no lugar dele.
Os sacerdotes, por pura inveja e raiva de Jesus Cristo, que ganhou notoriedade ao ser chamado de “Rei dos Judeus”, fez pressão política para que Pilatos mandasse crucificar Jesus. Não querendo se indispor politicamente com os líderes religiosos, os quais poderiam dificultar a vida do governador, caso os desagradasse, então Pilatos lavou as mãos e entregou Jesus para a crucificação, sob o delírio da turba que pedia a libertação de Barrabás aos gritos.
Os evangélicos que vieram da reforma protestante comeram o pão que o diabo amassou desde os séculos 14 e 15 com os pré-reformadores, descontentes e escandalizados com a alta violência, baixa expectativa de vida, desigualdades sociais e econômicas. E se indignavam com a chamada “matemática da salvação” ou religiosidade contábil em que pecado era como se fosse um débito na conta do pecador, o qual poderia salvar sua alma comprando “indulgências”, quem tinha o poder de conceder o perdão dos pecados.
Até hoje existem falsos pastores vendendo salvação, os mesmos que querem de novo misturar religião com o Estado (leia-se: religião com os cofres públicos) para satisfazer os seus propósitos por meio de um fundamentalismo religioso. São os mesmos que, há dois mil anos, incentivaram a turba para soltar Barrabás e crucificar Jesus Cristo.
Vale até invocar Mateus 23:25-26, que trata da hipocrisia dos fariseus, os quais se apresentavam como “puros” (autocontidos, não envolvidos com assuntos carnais), mas eram fétidos por dentro, abundando neles os desejos terrenos e carnalidade, os quais estavam cheios de “rapina e de intemperança”.
Não há dúvidas de que, se fosse naquele tempo de Pilatos, seria essa mesma turba de hoje que brada contra a apresentação de um artista, que iria mandar crucificar Jesus Cristo, que só andava com pessoas excluídas e marginalizadas, assim como eram seus discípulos; que se rebelou contra os vendilhões do Templo; e que foi mandado para a cruz por causa de uma intriga política diante de um povo incitado pela hipocrisia.
Estamos presenciando na atualidade um caminho inverso do que os reformadores lutaram, por séculos, para que religião e Estado fossem separados para o bem da sociedade. Hoje a religião extrapolou todas as barreiras e se coloca apenas como mais um instrumento de barganha na política, cujos fiéis são manipulados a acreditarem que o representante apontado pelos pastores estaria revestido de uma missão sagrada.
O que presenciamos em Boa Vista é um mal sinal de um fundamentalismo religioso, com base na hipocrisia alimentada pelos vendilhões do Templo, que alimenta a alienação, a intolerância, o fanatismo e uma leitura deturpada da Bíblia para favorecer religiosos políticos que buscam poder e vantagens advindas dos cofres públicos. Se Jesus voltasse de novo hoje, essa turba gritaria outra vez: “Solta Barrabás! Crucifica Jesus Cristo!”.
Venha logo, Jesus.
*Colunista