OPINIÃO

A filosofia e os desafios do aquecimento global

Rafael Parente Ferreira Dias*

O aquecimento global representa uma amplificação do efeito estufa. Trata-se de um fenômeno natural e importante para a Terra, uma vez que permite a manutenção da temperatura ideal do planeta, entretanto, quando sua intensificação ocorre de forma excessiva, torna-se prejudicial. Compreender as consequências negativas deste fenômeno é fundamental para adotarmos medidas preventivas, de modo a minimizar os impactos negativos e garantir um futuro sustentável para as gerações futuras.

No mês passado, agosto se destacou como o mais quente registrado na história do nosso planeta, conforme relatado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Os cientistas da agência calcularam uma temperatura média global de 16,85°C para agosto, superando a média do século 20 em 1,25°C (ou 2,25°F). Esse recorde de temperatura está intrinsecamente relacionado ao fenômeno do aquecimento global, às ocorrências de ondas de calor nos oceanos e aos efeitos do El Niño.

Além do calor excessivo, podemos citar muitos outros problemas relacionados ao aquecimento global, tais como: 1. derretimento das calotas polares e geleiras, contribuindo para o aumento do nível do mar; 2. ocorrência de eventos climáticos extremos (furacões, tempestades, secas prolongadas e enchentes); 3. perda da biodiversidade e ecossistemas, podendo resultar na extinção de muitas espécies; 4. insegurança alimentar. Além disso, deve-se ressaltar que as mudanças climáticas implicam também na instabilidade política e econômica.  

Leonardo Boff, teólogo e filósofo, emprega a terminologia ‘Casa Comum’ ao abordar as responsabilidades dos seres humanos no zelo e na preservação do meio ambiente. Ele enfatiza a interconexão de todos os seres e a necessidade de desenvolver um sentimento solidário sobre o planeta. A capacidade de acolher, cuidar e reconhecer o valor intrínseco de outras formas de vida, sejam elas humanas ou não, é uma expressão de empatia e nobreza moral. Nesse sentido, as reflexões sobre as questões climáticas podem ser compreendidas sob uma perspectiva mais ampla de ética e responsabilidade.

Diante deste panorama, a filosofia desempenha um papel essencial na construção de uma ética ambiental, pois, desde suas origens, reconhece o valor da physis (natureza) e sua interdependência vital com os seres humanos. Ao questionar e explorar os fundamentos da moralidade e da responsabilidade, a filosofia nos ajuda a compreender o significado e a importância de ações solidárias cuja aplicabilidade estenda-se para além das fronteiras humanas e alcance toda a natureza. Assim, corroborando com os apontamentos de Boff, essa moral-solidária nos encoraja a desenvolver uma sensibilidade mais refinada em relação ao valor intrínseco dos nossos ecossistemas.

Devemos salientar que ao longo da história, a natureza tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para artistas, poetas, escritores, músicos e filósofos. Distante dos ruídos de aço e concreto das grandes cidades, a fauna terrestre revela uma linguagem esquecida, inefável, emanada por criaturas silvestres, de olhares curiosos e sorrateiros, exalam constantemente o perfume da inocência e da beleza universal – lição de humildade e respeito para todos os seres humanos.

Que essa sinfonia da natureza possa inspirar a humanidade, evocando um profundo senso de encantamento e gratidão. Resgatar a reverência e o respeito do ser humano pelo meio ambiente é um imperativo moral da filosofia que transcende fronteiras culturais e geográficas. À medida que a sociedade avança, é fundamental reconectar-se com a teia da vida da qual fazemos parte. Para tanto, faz-se necessário conscientizar a população sobre a importância de aprofundarmos o debate sobre as mudanças climáticas; de fato, esta é uma questão urgente que requer ação imediata e cooperação internacional.

Objetivamos, com o presente texto, provocar em cada indivíduo um autêntico questionamento filosófico acerca dos problemas ambientais. A proposta é conscientizar a população por meio de uma profunda conexão estética com a riqueza das matas. Enaltecer o canto dos pássaros, vivenciar a beleza dos rios, contemplar a delicadeza das flores e a exuberância da fauna e flora. Precisamos ressignificar nossa relação com o planeta Terra, enxergá-lo como fonte de veneração e não de exploração indiscriminada. Estamos diante de um risco iminente; negligenciar o debate e, especialmente, as medidas a serem tomadas acerca dos temas ambientais pode resultar em consequências catastróficas. Portanto, a consciência e a ação imediata são cruciais para mitigar esses riscos e criar um futuro sustentável para as gerações presente e futuras.

Rafael Parente Ferreira Dias é professor de Filosofia da UERR