JESSÉ SOUZA

O papel da crítica e a comparação entre Território Federal e Estado

Maria das obras estruturantes de Roraima foi construída no tempo de Território, a exemplo da ponte dos Macuxi (Foto: Divulgação)

Demorou, mas elas chegaram: as críticas. Depois que larguei o jornalismo diário e fui viver um ano sabático, passei a não mais ser monitorado de certa forma pelos críticos, especialmente os haters (os odiadores gratuitos). Ao retornar para este espaço de opinião diária, fiquei longe de críticas e elogios por um bom tempo… até algumas semanas atrás.

Embora ninguém goste de ser criticado, o exercício da crítica é imprescindível para a avaliação pessoal e profissional, pois o monitoramento por parte das pessoas acaba levando a uma reflexão sobre erros e acertos a fim de melhorar. Algumas mexem em feridas, mas a maioria tem poder transformador, para melhor, a partir de quando passamos pelo às vezes doloroso papel da autorreflexão.

Mas a crítica serve também para apontar que esta Coluna trilha pelo caminho certo, pois à medida em que assuntos passam a mexer com os interesses de alguns, é natural que haja uma reação. Minhas três décadas de jornalismo me habilitam a enxergar isso, pois, dos 20 anos de Folha de Boa Vista, boa parte dos ataques que sofri foi por causa da linha combativa que eu imprimia na minha equipe e que exerço até hoje na produção dos meus artigos.  

Então, é natural que as críticas surjam aqui e acolá, restando saber depurá-las a fim de corrigir erros, melhorar conteúdos, simplesmente ignorar ou, ao contrário, seguir em certos temas sabendo que eles estão incomodando quem não quer ser incomodado. Porque especialmente políticos não querem ser importunados e, por sua vez, os governos só passam a trabalhar quando sabem que estão sendo monitorados.  

Recebi alguns comentários sobre o artigo de ontem, cujo tema foi a situação crítica da BR-174 como foco sobre os 35 anos de criação do Estado de Roraima, em que concluí afirmando que os políticos cuidaram mais dos seus interesses do que do desenvolvimento de Roraima. E dos e-mails que recebi, merece destaque o do historiador e professor universitário Amberê Freitas, que é Doutor em Engenharia de Transportes e Mestre em Administração Pública.

Ele fez uma análise sobre a caminhada de Roraima do tempo de Território Federal, que durou 45 anos, até chegar a Estado, hoje com 35 anos. “Diferença pouca. Mas o que quero compartilhar com você é uma comparação entre o Território Federal e seu grau de desenvolvimento com o Estado”, comentou.

Conforme ele detalhou, tudo que há de grande e estruturante em Roraima foi realizado pelo Território Federal. “Vejamos: a BR-174 de Manaus a Venezuela; a BR-401 que nos liga a Guiana; a  BR-210; e por aí vai. TODAS as BRs. As grandes pontes do rio Branco em Boa Vista, do rio Uraricoera, do Surumu, do Amajari e por aí vai. Até a criação da Universidade. A própria estruturação de Boa Vista como cidade. O aeroporto também”, pontuou.

Ele segue o comentário questionando sobre o que fez Roraima enquanto Estado: “Criou muitas despesas que o Território não tinha. Muita despesa: Assembleia Legislativa, Ministério Público, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e por aí vai. Ou seja, o Estado trouxe a democracia, pois com o Território Federal quem mandava mesmo era o Ministro do Interior. O governador pegava o telefone, ligava pro Ministro e pedia o dinheiro para fazer isso ou aquilo. Com o Estado o que vale são as emendas parlamentares. E o que é melhor: o Território Federal ou o Estado?”.

Seja qual for a resposta para o questionamento, o comentário de Aimberê só reforça a respeito do que foi comentado no artigo de ontem: os políticos trataram mais de seus interesses do que do interesse do Estado. É só analisar a comparação do que foi feito nos 45 anos de Território com o que foi feito nesses últimos 35 anos de Estado.

E com a triste constatação de que os políticos da atualidade não conseguem sequer manter a BR-174, que foi construída sob muito sacrifício a partir de 1893, com a abertura de um picadão, até a inauguração da rodovia, em 6 de abril de 1974, sob os corpos de muitos indígenas que sucumbiram ao longo desse período. Há muito a que se refletir sobre o que os políticos realmente querem para Roraima.

*Colunista

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