A renúncia do prefeito de Rorainópolis, Leandro Pereira, trouxe à tona a situação não apenas daquele município no Sul de Roraima, o segundo mais populoso e, por conseguinte, o segundo maior colégio eleitoral roraimense. Acima de tudo, a realidade aponta para a necessidade de colocar sob monitoramento os demais municípios do interior do Estado, papel este de fiscalizar dos vereadores, em princípio, mas que compete a todos, inclusive o eleitor.
Como todos estão de olho nesse importante reduto eleitoral, o caso caiu na obscura vala da disputa eleitoral antecipada. Um deputado já foi a público dizer que o então prefeito foi usado por um grupo político ligado ao governo estadual. E o próprio Governo do Estado apressou-se em anunciar uma força-tarefa com a finalidade de realizar um diagnóstico sobre a situação financeira do Município de Rorainópolis. E isso logo após o novo prefeito, Pinto do Equador, decretar estado de calamidade pública administrativa por 180 dias.
Até os deputados estaduais se assanharam e aprovaram a criação de uma comissão para fiscalizar aplicação de emendas parlamentares e recursos estaduais e federais. É como se de repente, não mais que de repente, Rorainópolis se enchesse de uma prioridade que nunca existiu, a não ser promessas em comícios eleitorais a cada dois anos. Não que o caso não possa ser investigado, e sim pelo despertar instantâneo de quem nunca fiscalizou nada ou não ligou para outras graves denúncias.
Nesse bolo fiscalizador entrou também o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), que protocolou uma Ação Civil Pública por improbidade administrativa contra o Município de Rorainópolis e mais o ex-prefeito Leandro Pereira da Silva e o ex-secretário municipal de Finanças, Samuel dos Santos Moraes, sob acusação de reterem e desviarem R$5 milhões referentes a empréstimos feitos pelos servidores, cujas parcelas foram descontadas do salário, mas não repassadas à Caixa Econômica Federal.
Já que bateu a sanha fiscalizadora nos agentes públicos, então é preciso esclarecer que existem outros municípios precisando passar por sérias fiscalizações, especialmente depois das eleições passadas, quando a menos 100 dias da votação o governo estadual abriu os cofres e repassou R$70 milhões em recursos extras para 12 municípios do interior. Em seguida, foram anunciados R$105 milhões em contratos direcionados para realizar serviços nos 15 municípios.
Até agora, ninguém sabe aonde foi parar a montanha de recursos, uma parte repassada aos prefeitos (R$70 milhões) para amenizar o estado de calamidade pública por causa do inverno, e outra direcionada a obras e serviços em todos os municípios (R$105 milhões), cujo objeto desses contratos não foi detalhado nem se sabe onde essas obras e serviços seriam ou foram realizados.
De lá para cá, já houve prefeitos cassados, investigados e denunciados, mas nunca se ouviu a respeito de que fim levou toda aquela dinheirama anunciada em ano eleitoral. Para completar, até o governador Antonio Denarium foi cassado e, recentemente, multado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Mas bastou o prefeito de um importante colégio eleitoral renunciar para surgir uma sanha fiscalizadora jamais vista em outros tempos.
Há muito mais a ser esclarecido nos municípios do interior, mas os fatos mostram que não há toda essa vontade de passar a limpo tudo o que está obscuro, ainda que a pobreza dessas cidades contraste com os visíveis sinais exteriores de riqueza de prefeitos e secretários que passam incólumes às sanhas investigatórias. Rorainópolis é apenas um desses casos.
*Colunista