Sebastião Pereira do Nascimento*
A humanidade ainda não conquistou a Terra por completo, mas já a transformou o suficiente para mudar seu curso natural. O resultado disso são as grandes enchentes que atingem vários países ao mesmo tempo, espalhados pelo mundo. Nos últimos meses, temos assistido diversas tragédias a partir de inundações em várias regiões do Brasil, e também na Grécia, na Espanha, na Turquia, na Bulgária, em Hong Kong, etc. Segundo especialistas, as chuvas registradas nessas regiões da Europa e Ásia, foram as piores chuvas em 140 anos. Pior de tudo é quando se contam as tantas mortes em meio às inundações.
Simultaneamente, ocorrem também em outras regiões do planeta as catástrofes provocadas pela seca intensa. Uma sequidão global, difundida cotidianamente pelos meios de comunicação, como estes recortes em destaque: “estudos afirmam que El Niño pode provocar recorde de aquecimento global” (Portal Leouve, 25/06/2023); “cientistas europeus dizem que 2023 provavelmente será o ano mais quente da história” (CNN Brasil, 09/07/2023); “organização das Nações Unidas afirma que primeira semana de julho foi a mais quente já registrada” (GPS Lifetime, 10/07/2023); “mais de 61 mil europeus podem ter morrido durante ondas de calor do último verão” (Globo, 10/07/2023); “EUA, Europa e Japão enfrentam ondas de calor extremo” (DW, 15/07/2023); “em Portugal, mais de mil pessoas deixaram suas casas devido à seca e aos incêndios florestais” (UOL, 08/08/2023); “o nível de gelo marinho atinge baixa histórica na Antártida e gera preocupação” (Head Topics 25/09/2023).
Toda essa fervura climática, traz um calor sem precedentes, com temperaturas de até 70°C, fazendo com que a Terra se transforme em um novo supercontinente, sem seres humanos. É verdade! Este será o cenário do planeta Terra daqui a milhões de anos, segundo projeções de um estudo liderado por cientistas britânicos e suíços da Universidade de Bristol, Reino Unido. O estudo revela que uma temperatura 30°C mais alta do que a máxima atual, levará provavelmente a extinção em massa (como aconteceu com os dinossauros), de quase todos os grupos de mamíferos, incluindo os humanos.
Esses eventos ocorrerão em um novo supercontinente que vem sendo chamado pelos cientistas de “nova pangeia” ou “pangeia última”. E, ainda que tais projeções são para daqui a 250 milhões de anos, mas o início de tudo já está em andamento, segundo a pesquisa publicada recentemente na Nature, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo. O estudo apresenta os primeiros modelos climáticos feitos por supercomputadores sobre este futuro distante. As projeções demonstram como os extremos climáticos vão ser intensificados de forma drástica, fazendo com que os continentes atuais se fundem para formar um supercontinente: quente, seco e em grande parte inabitável, sendo apenas 8% a 16% da Terra habitável.
No caso do Brasil, se as ondas de calor provocam atualmente temperaturas na casa dos 40°C, o modelo climático projeta um aumento ainda maior destas temperaturas, pelo fato do sol se tornar mais brilhante, emitindo mais energia e aquecendo a Terra. Outro agravante serão os processos tectônicos na crosta terrestre, que com a formação do supercontinente, que pode levar as erupções vulcânicas mais frequentes. Essas erupções produzirão enormes liberações de dióxido de carbono na atmosfera, destruindo a camada de ozônio e deixando o planeta ainda mais quente e mais árido.
Outro fenômeno que já vem acontecendo devido às mudanças climáticas são os ciclones tropicais mais intensos — tempestades de baixa pressão que se formam em torno dos trópicos e apresentam grande umidade e alta temperatura, formando tempestades torrenciais associadas a ventos em alta velocidade. Nos últimos anos, a comunidade científica internacional vem debatendo muito sobre os efeitos do aquecimento global causado pelo homem, o que torna esses eventos tempestuosos mais fortes ou fazendo com que ocorram com mais frequência.
O resultado de tudo isso é um ambiente hostil, desprovido de fontes de alimento e de água nas condições ideais para consumo dos seres vivos. Os estudos supracitados, indicam que as temperaturas generalizadas entre 40°C e 50°C e os extremos diários ainda maiores, agravados pelas danosas ações antrópicas, acabariam por selar o destino da biodiversidade, inclusive da humanidade.
E por falar nos humanos, apenas um ser vivo no mundo é capaz de destruir o sistema terrestre e matar aos poucos a si próprio. E mais apavorante ainda, é que ao perceber o seu autoextermínio, os humanos, conspirando contra a Terra, cuidam de ocupar outros corpos celestes como, por exemplo, a lua ou marte, ou quem sabe o planeta TOI 700. Com essa atitude destrutiva, é cabal dizer que para os humanos, não basta querer só derrotar a Terra, eles querem também derrotar outros planetas.
Assim, ocupar outros espaços para além da Terra, no futuro isso pode ser consumado, pois, estudos recentes apontam que um novo planeta com cerca de 95% do tamanho da Terra foi encontrado pela NASA, anunciou a Agência Espacial Americana na semana passada durante a 241ª reunião da Associação Astronômica Americana, em Seattle. Batizado de TOI 700, o novo astro, provavelmente de composição rochosa — segundo a NASA—, encontra-se há 100 anos-luz de distância da Terra, na chamada “zona habitável”, o que significa que possa existir água líquida em sua superfície em condições de consumo humano.
Voltando para a Terra, as ações de ataque ao meio ambiente pelos humanos (que resultam no agravamento da crise climática) e a incapacidade da política internacional em prover soluções para tornar ameno esse flagelo global, são os elementos centrais que explicam o quadro progressivo de degradação do planeta Terra e da decadência da humanidade. Portanto, é imprescindível que os humanos levem em conta as questões ambientais, bem como passem a cumprir, escrupulosamente, o compromisso da agenda climática, a fim de mitigar as ações que refletem na mudança do clima. Do mais, é oportuno ressaltar que por sua essência destrutiva, o Homo sapiens está destruindo a Terra e, por consequência, sua própria espécie. Em vista disso, ele já pensa em abdicar do sistema terrestre e partir para destruir outros corpos celestes. Resta, então, dizer aos meus congêneres que antes de partirem olhem em volta e vejam a primavera sem flores…
*Consultor ambiental, filósofo, poeta e escritor. Autor de livros de poesias e ensaios filosóficos, além de publicações científicas.