No final da tarde de ontem, os mais de 1.200 presos, que superlotam a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), segundo agentes penitenciários de plantão, recusaram-se a voltar para as celas após a chamada no final da tarde. Porém, conforme os próprios detentos, em entrevista por telefone para a Folha, afirmam que isso não aconteceu. Surgiu ainda a notícia de um princípio de motim, que não se confirmou.
Os agentes afirmaram que os presos estavam espalhados e soltos nos pavilhões, negando-se a recolherem-se às alas, que estariam com as portas abertas. Por conta disso, reforço policial foi solicitado, mas, até as 19h45, horário em que a Folha ficou na unidade, apenas uma viatura da Força Tática, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), chegou, porém, saiu da unidade em poucos minutos.
Antes disso, o Guardião do Departamento de Inteligência da Polícia Civil foi levado à unidade prisional, mas não chegou a entrar. Este setor tem um grande alcance de monitoramento da área em caso de sinistros.
Por telefone, dezenas de presos, que preferiram não se identificar, conversaram com a Folha e contaram a versão deles sobre o que aconteceu. “À tarde, o diretor mandou buscar um reeducando alegando que ele seria levado ao médico. Na verdade, ele foi trancado dentro de uma sala, encapuzado e espancado, muito tempo depois, liberado. Em momento algum nós tentamos nos rebelar ou fazer algum motim. Quem se recusou a fazer a contagem foi a própria direção”, alegou um dos presos.
Outro contou que o representante das alas foi até o chefe de plantão para entrar em um consenso a fim de evitar que “notícias maldosas” fossem ventiladas. “Nós erramos e estamos pagando por nossos crimes, mas precisamos ser tratados como gente, com respeito. Queremos direito a atendimento médico, comida decente, material de higiene, reforma no presídio, porque verba para isso há, só não é investida. Se queremos uma cela digna, nós é que temos de providenciar a reforma, com doações e ajuda dos familiares”, disse outro.
“Não tem nem perigo de querermos fazer rebelião. Temos um diretor ‘comunista’ que anda até os dentes armados e ladeado de seguranças. Depois que ele entrou, todo mundo morre de medo. Estes dias, outro colega ia ser levado para uma audiência e até spray de pimenta jogaram nele dentro do camburão”, narrou.
Quanto à possível comemoração do aniversário do Primeiro Comando da Capital (PCC), que desde o último domingo está sendo ventilado na mídia, outro preso concluiu: “Aqui ninguém faz parte de facção criminosa. Queremos, sim, é ser ressocializados e com o tempo podermos voltar para as nossas vidas normais, juntos de nossas famílias”, disse.
SEJUC – A Folha procurou a Sejuc (Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania), mas não conseguiu contato, pois os números estavam fora da área de cobertura.
Polícia
Agentes dão alerta de rebelião, mas presos ligam negando motim
Depois do alerta dado por agentes de que presos estariam se negando a recolherem-se para as alas, presos ligaram para a Folha negando o fato