BOA VISTA

Manicure cita violência policial em ação de despejo sem ordem judicial no Pricumã

PM disse que qualquer pessoa que se sentir prejudicada por ação policial pode denunciar o caso à Corregedoria ou ainda à Ouvidoria

Jindriska Moreno precisou ir para outro local no bairro Pricumã (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Jindriska Moreno precisou ir para outro local no bairro Pricumã (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Despejada com os cinco filhos de um terreno particular situado no bairro Pricumã, a manicure Jindriska Moreno, 36, negou que a saída de dezenas de venezuelanos do local tenha sido pacífica, ao citar possível violência praticada por policiais militares durante ação de despejo e demolição das estruturas do espaço.

Há quase um ano, a migrante se mudou para o local para se abrigar da chuva, junto com os filhos, hoje com idades de três, seis, 15, 17 e 20 anos de idade (esta, uma mulher grávida). No início, uma amiga ajudava a família a se manter no local. A manicure disse que chegou a receber ajuda do próprio dono do local, como comida e dinheiro.

Mas o clima ficou tenso depois que outras dezenas de seus compatriotas passaram a se abrigar no espaço, o que irritou o proprietário do imóvel, que pretende construir um hotel no terreno avaliado em R$ 1 milhão.

Reintegração

Em janeiro deste ano, o empresário acionou a Justiça de Roraima para pedir a reintegração de posse do local – o que, até o momento, não foi concedida. A informação preliminar era de que havia decisão judicial para determinar a saída dos ocupantes, mas a Folha apurou que isso é improcedente.

A defesa do empresário chegou a alegar, à Justiça, que o imóvel virou local para consumo de drogas e abrigo para suspeitos de alta periculosidade. No entanto, segundo Jindriska, a PM nunca achou entorpecentes durante as ações no espaço.

“Sempre diziam que havia tráfico, que tinha vagabundo, traficante no local. O Bope [Batalhão de Operações Policiais Especiais] entrava à força lá, mas nunca acharam nada. Disseram que éramos ‘venecas'”, relatou.

Demolição

Ação de despejo em terreno particular situado no bairro Pricumã (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Um trator foi mobilizado para destruir as estruturas do espaço, onde antes funcionava uma vila de apartamentos, em ação de despejo realizada na quinta-feira (19). Segundo Jindriska, a ação iniciou quando um homem chegou tirando o portão do local.

Ela ainda tentou sensibilizá-lo de que tinha filhos e que não poderia continuar com a destruição do imóvel. Segundo a manicure, momentos depois, o rapaz teria chegado de forma abrupta ao local e proferido com ofensas contra os migrantes. Além disso, segundo Jindriska, o homem avisou que demoliria as estruturas e chamaria a polícia.

“E eles [policiais] começaram a tirar as pessoas truculentamente, apontando fogo [arma] para nós, na frente das crianças, enquanto elas choravam. Recuperamos poucas coisas”, disse sobre não ter conseguido recolher todos os pertences pessoais. “Não deixaram a gente pegar as coisas, não se importaram com nada”.

Ação de despejo em terreno particular situado no bairro Pricumã (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Depois, Jindriska, sua família e outros migrantes acharam um local no mesmo bairro para ficar provisoriamente. “Aqui a gente paga luz e água. Não somos muitas pessoas […]. Estamos recebendo apoio de algumas pessoas”, explicou.

Citados

A PM esclareceu foi ao local, na quinta-feira, para averiguar denúncia de que a presença de usuários de drogas tinha se tornado rotineira na referida propriedade. “A guarnição foi ao endereço informado e verificou que algumas pessoas estavam no local, porém todas saíram pacificamente”, disse.

Por fim, a corporação disse que qualquer pessoa que se sentir prejudicada por ação policial pode denunciar o caso à Corregedoria ou ainda à Ouvidoria, por meio do site da PM por meio do site da instituição.

Até a publicação da reportagem, a Folha não conseguiu contato com a defesa do proprietário para tratar sobre a ação de despejo. O texto será atualizado em caso de posicionamento.