A situação da Rodoviária Internacional de Boa Vista só vem piorando nos últimos anos e tem ficado muito pior nos últimos meses, quando a Operação Acolhida passou a não mais conseguir abrigar a grande quantidade de venezuelanos que chegam ao Estado diariamente pela fronteira norte. No entanto, uma comissão de deputados estaduais optou por visitar as obras de reforma e ampliação do Aeroporto Internacional de Boa Vista, na quinta-feira passada, 19, que foi privatizado por uma empresa francesa.
Óbvio que os parlamentares dão prioridade ao que lhes interessa, como é o caso do aeroporto, para onde eles correm ao primeiro feriado ou fim de semana quando vão curtir seus passeios durante suas folgas ou recorrentes. Quem frequenta rodoviária é assalariado e, no máximo, uma classe média apertada pela crise querendo fugir do preço da gasolina ou da crítica situação da BR-174 em suas viagens para Manaus (AM).
Tomado por imigrantes e com estrutura inadequada, a rodoviária, sob responsabilidade do governo estadual, nunca despertou interesse por uma vista de autoridades para uma solução. Afinal, política não pega ônibus para tirar férias ou passear. A crise migratória não apenas está consumindo a estrutura da rodoviária, como já decretou a falência dos quiosques em seu entorno que vendiam refeições e lanches.
Da mesma forma, os deputados nunca foram tomados por uma sanha fiscalizadora em relação ao Parque Anauá, que desde a primeira administração é citado como beneficiário de milionários recursos para reforma e ampliação, obras estas nunca realizadas. Apesar disso, o governo estadual relacionou o parque como uma das obras que irão receber recursos do empréstimo de R$805,7 milhões que foi autorizado pelos deputados estaduais, na semana passada.
Conforme o projeto, serão destinados R$ 100 milhões para revitalização total do Parque Anauá. No entanto, é preciso esclarecer a respeito dos seguidos anúncios de recursos. Em 2021, no dia aniversário do Estado de Roraima, em 05 de outubro, o governador Antonio Denarium anunciou que o Parque Anauá estava incluso no pacote de 11 obras por meio do programa “Aqui tem Obra”, com mais de R$ 372 milhões em investimentos. O Anauá receberia cerca de 30 obras sob a promessa de o local se tornar o “primeiro parque inclusivo do Brasil”.
Depois, faltando 100 dias para as eleições passadas, em junho de 2023, Denarium anunciou R$105 milhões em contratos, entre os quais o Parque Anauá seria contemplado dentro desse pacote de ano eleitoral. Até hoje ninguém sabe realmente onde e como foram aplicados esses recursos. Nem mesmo o valor supostamente destinado ao parque.
Um novo anúncio de revitalização do Parque Anauá foi anunciado no dia 17 de abril deste ano, quando foi realizada uma solenidade para o governador assinar ordem de serviço das obras que prometiam “transformar o Parque Anauá”, cujo valor do projeto era de R$ 120 milhões só de recursos próprios, mas que conta ainda com recursos de emendas parlamentares desde o governo antecessor a este.
Então, essas cifras precisam ser esclarecidas diante do endividamento do Estado por meio de um empréstimo autorizado pela Assembleia Legislativa, sem que o projeto fosse realmente debatido. No entanto, os deputados estaduais mostram-se mais preocupados com o aeroporto do que com outros assuntos, os quais suas obrigações para as quais são bem pagos. O Parque Anauá precisa ser passado a limpo.
*Colunista