Os mais de 600 venezuelanos que vivem na Praça Simón Bolívar, situada na divisa dos bairros Pricumã, Treze de Setembro e São Vicente, na zona oeste da Capital, foram surpreendidos no sábado de Aleluia, 31, por trabalhadores de uma empresa contratada pela Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) fechando todo o entorno do local.
Pedaços de madeira e tapumes foram utilizados para isolar toda a rotatória que compreende a praça. O problema é que o local foi isolado sem que os estrangeiros fossem sequer retirados dali sob a alegação de que o espaço passaria por reforma. Contrariando a lei, também não havia nenhuma placa informando sobre os serviços que seriam realizados, quais seriam os responsáveis técnicos e a empresa responsável pela obra e o valor da obra.
A reportagem da Folha conseguiu apurar que a possível reforma da praça será feita pela empresa WSK Empreendimentos e Serviços LTDA., que possui contrato de R$ 7,1 milhões com a administração municipal para obras de serviços de engenharia, manutenção predial, reparação de prédios públicos, além de áreas e praças públicas.
Dezenas de guardas civis municipais foram chamados para fazer a segurança do local e controlar a entrada e saída dos venezuelanos. A ordem é para impedir a entrada de novos imigrantes e barrar aqueles que levarem seus pertences e pretendam voltar para se instalar na praça. Não foi dada previsão sobre o dia em que os estrangeiros seriam levados para abrigos.
O superintendente da Guarda Civil Municipal (GCM), Murilo Santos, informou apenas que as barracas instaladas pelos venezuelanos estavam sendo cadastradas e que eles seriam realocados na próxima semana. “Na semana passada as mulheres e crianças já haviam sido realocadas e na próxima semana daremos continuação a esse trabalho. Todas as barracas já foram devidamente cadastradas, eles já foram informados e a partir da próxima semana serão retirados e levados para abrigos”, disse.
Segundo ele, além de abrigo, a praça estava servindo como ponto de prostituição e tráfico de drogas. “A coisa está complicada. Tivemos informação que aqui dentro se instalou ponto de prostituição e drogas e temos estado aqui diariamente tentando minimizar esse problema. Os que forem chegando, o objetivo é que não se instalem mais aqui e sejam conduzidos direto para o abrigo”, afirmou.
VENEZUELANOS – O argumento dado pelo superintendente da Guarda Municipal de que os venezuelanos sabiam que a praça seria fechada foi desmentido pelos próprios estrangeiros. Muitos deles temiam ser retirados à força sem que fossem levados para abrigos.
“Não avisaram a gente em nada. Não sabemos para onde vamos e como vai ficar nossa situação. Estamos aqui há cerca de 20 dias e ficaríamos gratos se formos para algum refúgio, pois aqui vivemos apenas por meio de doações de comidas, mas às vezes não tem nada para comer”, disse o venezuelano Celso Simón.
PREFEITURA – A Folha enviou, ainda na manhã de sábado, 31, demanda à Prefeitura de Boa Vista pedindo explicações sobre o fechamento da Praça Simón Bolívar e o motivo de o local estar sendo isolado sem a retirada dos venezuelanos. No entanto, o executivo municipal se recusou a responder à reportagem. (L.G.C)
Venezuelanos serão levados para abrigos
da Acnur, diz general do Exército
O comandante do Exército em Roraima, general Gustavo Dutra, informou que os venezuelanos que ainda permanecem na Praça Simón Bolívar – agora isolada – serão levados para os abrigos dos bairros Jardim Floresta, São Vicente e 13 de Setembro, ambos geridos pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), sob coordenação do Exército.
O espaço do Jardim Floresta foi inaugurado há três semanas e abriga atualmente cerca de 250 estrangeiros. Já o que fica na avenida Nossa Senhora da Consolata, no São Vicente, deve ser aberto nesta segunda-feira, 2. A previsão é que o do bairro 13 de Setembro abra as portas na quinta-feira, 5.
“Todos serão levados para o Jardim Floresta, que irá receber mais gente, e para os outros dois abrigos. É a mesma situação, a gestão será da Acnur e a coordenação será do Exército em parceria com o Governo e outros órgãos”, disse o comandante.
Conforme o general, além de fornecer alimentação, os militares ficarão responsável por manter a ordem nos abrigos. “A pessoa dentro do abrigo estará cadastrada, controlada, vacinada e sob regras de convivência. Não existe possibilidade de tráfico de drogas ou aliciamento dentro dos abrigos”, destacou. (L.G.C)
Chega a seis o número de abrigos para venezuelanos em RR
Com a criação de outros dois abrigos que devem ser inaugurados ainda esta semana, chegam a seis o número de espaços destinados em Roraima para receber os venezuelanos que vieram do país vizinho, sendo três geridos pela ONU, dois pelo Governo do Estado e um pela Prefeitura de Pacaraima.
Um levantamento feito pela Polícia Federal apontou que Roraima recebeu, apenas no ano passado, 70.757 estrangeiros vindos da Venezuela. Destes, mais de 60%, ou 45.221 continuam residindo no estado. São mais de 5,8 mil imigrantes, em média, entrando mensalmente pela fronteira de Pacaraima fugidos da crise econômica, social e humanitária decorrente do socialismo na Venezuela.
O primeiro deles, o Centro de Referência ao Imigrante (CRI), foi criado em dezembro de 2016 pelo Gabinete Integrado de Gestão Migratória, do Governo do Estado, e funciona no ginásio poliesportivo do Pintolândia, próximo à Praça Germano Augusto Sampaio, onde vivem cerca de 600 venezuelanos indígenas.
O segundo abrigo foi aberto em outubro do ano passado e funciona no ginásio esportivo do bairro Tancredo Neves, na zona oeste de Boa Vista, onde moram aproximadamente 500 estrangeiros não índios. Em ambos, o Estado é o responsável em fornecer alimentação, como almoço e jantar, e o município em zelar pelos espaços e fornecer café da manhã.
Em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, um abrigo é mantido pela Prefeitura daquele município desde agosto de 2017. No local vivem atualmente 500 indígenas Warao, praticamente o dobro da capacidade. (L.G.C)