JESSÉ SOUZA

Reforma fantasma e os mesmos problemas que acometem a feira que deixou de ser do produtor

Reforma da Feira do Produtor foi anunciada em maio do ano passado, mas o cenário continua o mesmo (Foto: Arquivo /FolhaBV)

Não é só a estrutura ruim e ultrapassada que afugenta o consumidor da Feira do Produtor, localizada na tríplice divisa dos bairros São Vicente, Pricumã e Mecejana. Há muito tempo que aquela feira deixou de ser realmente do produtor para se tornar um comércio quase que exclusivamente de atravessadores.

Como quem produz foi sendo desincentivado a vender seus produtos diretamente ao consumidor, é óbvio que os atravessadores irão assumir o local e praticar um preço mais alto – tão alto que chega a ser mais caro do que os preços praticados nos supermercados da cidade, os quais fazem constantes promoções.

Um exemplo pôde ser visto na venda de limão, que sumiu do mercado devido a entressafra. Enquanto na Feira do Produtor houve vendedores ofertando o limão a R$18,00 o quilo, os supermercados tinham uma média de preço de R$14,00 o quilo. Chega a ser abusivo o preço de alguns produtos naquela feira que se tornou do atravessador.

O que sustenta o movimento por lá é a venda de peixe, que acaba atraindo consumidores que aproveitam para buscar outros produtos, como verduras, farinha, pimenta, limão e outras frutas cujos preços ainda se mantém dentro do aceitável, concorrendo com o preço praticado pelos supermercados. Não fosse isso, a Feira do Produtor seria um grande vazio.

Os quiosques que vendem refeição também acabam garantindo um certo movimento, pois vários trabalhadores dos comércios no entorno optam por almoçar naquele local, seja porque fica perto do local de trabalho, evitando que a pessoa vá para casa no horário de meio-dia, seja pelo preço razoável cobrado pelo prato-feito. Mas as estruturas dos boxes estão precisando de uma urgente reforma.

É necessário não apenas que os órgãos de defesa do consumidor deem uma olhada naquela realidade de preços que chegar a ser extorsivos, mas também de quem é responsável por fiscalizar; ou o governo decida logo entregar a estrutura para a iniciativa privada, pois de nada adianta os cofres públicos bancarem uma estrutura para vendedores que praticam preços acima da média do mercado sob o título de Feira do Produtor.

Recentemente, a Prefeitura decidiu acabar de vez com a precária situação da rua que passa atrás da feira, que era tomada por buracos e lama, ficando algumas vezes intransitáveis em tempos de fortes chuvas, quando uma imensa lagoa se formava, escondendo crateras que podiam provocar acidentes e prejuízos a condutores.

No entanto, o cenário de precariedade segue dentro da feira, que há muito tempo precisa, no mínimo, de uma manutenção e uma completa organização e revitalização de um cenário marcado pela favelização de barracas, tumultuo de veículos por falta de estacionamento definido, falta de trato com o lixo e com o descarte de água utilizada nos boxes.

O que chama a atenção é que, em maio de 2022, o Governo do Estado anunciou o início das obras de reforma da estrutura física da Feira do Produtor, administrado pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater). O valor da obra foi de R$1,3 milhão. No entanto, o cenário segue o mesmo de um ano atrás, o que requer uma resposta dos órgãos fiscalizadores.

Naquela época, as reclamações dos feirantes e consumidores registradas pela imprensa eram praticamente as mesmas: falta de água, rede de esgoto com defeito que provocavam mau cheiro e a sujeira devido à falta de um serviço de limpeza. É como se a verba de R$1,3 milhão tivesse se evaporado, sem que nada tivesse mudado. E com o detalhe de preços praticados fora da realidade, com o sumiço dos verdadeiros produtores que foram “devorados” pelos atravessadores.

*Colunista

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