Cotidiano

CRM faz alerta sobre riscos de cirurgias

Morte de moradora de Caracaraí na Venezuela depois de cirurgia volta a levantar discussão sobre os riscos

 

O sonho do corpo perfeito aliado aos preços convidativos para os roraimenses acabou em tragédia no final de semana em Puerto Ordaz, região de Ciudad Guayana, na Venezuela. A brasileira Glacinete Cabral, que morava em Caracaraí, morreu de complicações depois de uma cirurgia plástica que ela realizou na quarta-feira passada, 14, naquela país.
O assunto já foi alvo de alertas realizados por órgãos de saúde brasileiros e também assunto tratado pela Folha, no ano passado, que já havia publicado matérias falando sobre os perigos de um procedimento pós-operatório, já que havia relatos de que muitas pacientes preferiam voltar para o Estado sem tomar as devidas precauções.
Por meio das redes sociais, a cirurgiã que realizou o procedimento na brasileira declarou que o procedimento “foi um sucesso” e alegou que a causa da morte foi o excesso de medicamento tomado pela mulher, que estava sendo regulado pela irmã dela.
Segundo a médica, Glacinete apresentou um quadro de tosse e sua irmã havia lhe dado um xarope com doses em excesso, o que teria gerado uma arritmia no coração, levando a roraimense à morte.
CIRURGIAS – Nas redes sociais, como Facebook, e no aplicativo de celular WhatsApp são divulgados pacotes para quem estiver interessado em viajar para a Venezuela a fim de fazer cirurgias plásticas a preços bem mais baixos dos praticados no Brasil.
No Facebook são oferecidos pacotes para mulheres a preços tentadores, inclusive com transporte, alimentação, estadia, exames e até passeios turísticos. No WhatsApp existem grupos formados por pessoas conhecidas como “cuidadoras”, que organizam excursões de Boa Vista para Venezuela para que as pessoas possam realizar os mais diversos tipos de cirurgias plásticas.
Sobre o assunto, o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Alexandre de Magalhães Marques, explicou que, embora não haja ilegalidade na determinação de pacientes brasileiros que vão realizar procedimentos cirúrgicos fora, essa atitude expõe a pessoa a um risco altíssimo.
“O que a gente sempre tem batido na tecla é que todo e qualquer procedimento cirúrgico, por menor que seja, tem risco. Em se tratando de uma cirurgia plástica, esse risco é grande, isso porque na maioria das vezes se faz o procedimento, como lá na Venezuela, sem ao menos conhecer a capacidade técnica desses médicos que oferecem os serviços”, destacou Marques.
Conforme ele, outro fator que contribui para o aumento deste risco é a falta de acompanhamento médico antes e após a cirurgia, “como infelizmente aconteceu com essa moça que veio a óbito”. “Na grande maioria dessas cirurgias não são feitos o pré-operatório nem o pós-operatório adequados. São cirurgias, muitas vezes de grande porte, em que o paciente não tem um preparo e cuidados adequados”, frisou o presidente do CRM.
Marques disse que a demanda por cirurgias plásticas no país vizinho preocupa.  “Nós sabemos que lá deve ter bons profissionais, mas a gente não tem capacidade de estar aferindo a capacidade desses profissionais, muito menos nos locais onde as pessoas estão fazendo esse procedimento cirúrgico”, frisou.
“Por conta disso, se tornou impressionante o número de complicações que estão sendo recebidas, principalmente nos hospitais da rede pública. São complicações como infecção, rejeição das próteses utilizadas, infecção generalizada e muitas vezes levando à mutilação dessas pacientes. A gente tem recebido aqui relatos graves, chegando algumas vezes ao óbito da paciente, o que é muito sério”, relatou.
Segundo ele, as leis dos outros países também expõem riscos aos pacientes. “Lá é diferente do Brasil. As leis aqui são mais rígidas. Para você fazer uma cirurgia plástica,  o hospital tem que estar devidamente registrado, equipado com toda capacidade técnica de intervir se alguma complicação surgir e os profissionais qualificados e reconhecidos”.
Ele destacou ainda os cuidados com a fase de pós-operatório. “As pessoas precisam lembrar que cirurgia não é brincadeira. Mas a facilidade com que essas pessoas têm de realizar o procedimento acaba deixando de lado algumas fases com as quais aqui, no Brasil, nós somos muito rígidos”, frisou.
Ele explicou que casos como da moradora de Caracaraí têm surgido ao longo de todos os estados que fazem fronteira no país. “Isso tem nos deixado bastante preocupado. Elas são atraídas, principalmente, pela situação financeira e cambial dos países vizinhos. O problema é que muitas vezes acaba saindo muito mais caro do que se o paciente tivesse feito aqui no Brasil”, destacou Marques.
Como não há irregularidade no serviço, o CRM informou que pouca coisa pode ser feita. “O que nós aconselhamos é que as pessoas evitem esse tipo de empreitada. Apesar de ser perigoso, o profissional  não está realizando nenhum tipo de procedimento médico no Estado, o que impede o Conselho de autuá-lo, caso haja alguma inconformidade, deixando o indivíduo à mercê da legislação da Venezuela”, frisou.
O presidente do CRM disse que o mercado roraimense é completamente capaz de absorver a demanda de cirurgias estéticas. “Hoje nós temos, aqui, um número significativo de profissionais que fazem a cirurgia plástica. A procura é realmente grande e nós oferecemos profissionais com a formação adequada, todos preparados para fazer esse tipo de procedimento. Os pacientes também têm a segurança necessária para que isso ocorra da melhor maneira possível, por isso aconselhamos que as pessoas permaneçam no Estado”, disse.
Alexandre Marques alertou que, caso a pessoa realmente opte por fazer um procedimento fora do país, que procure seus médicos aqui para acompanhar o andamento do processo. “É importante para poder ter a certeza de que estará fazendo um procedimento com o mínimo de segurança exigido”. (JL)

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