Nos últimos quatro anos, uma média de 200 pessoas morrem anualmente vítima de suicídio em Roraima, conforme dados oficiais da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). É como se um avião lotado de passageiros caísse a cada ano, matando todos os passageiros e a tripulação. No entanto, a estatística não alarma a sociedade nem a mídia.
No ano de 2021, foram registrados 261 casos de suicídio, seis ocorrências a mais que em 2020. Em 2022, a estatística aponta que 224 pessoas tiraram a própria vida. Até setembro desse ano, já haviam sido registrados 199 casos de suicídio, o que significa que 2023 também deverá fechar com números dentro dessa média registrada desde o ano de 2000.
Somando os números, chega-se à constatação de que, em quase quatro anos, já morreram 939 pessoas de suicídio no Estado, o que mostra uma realidade perturbadora no que diz respeito a transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade. E isso precisa ser levado em conta pelas autoridades a fim de que políticas públicas sejam ampliadas para enfrentar a triste realidade.
Dentro dessa discussão, é imprescindível desmistificar o tema suicídio para que seja tratado pelas autoridades e pela mídia como um problema social, um tema coletivo, e não apenas como drama e tragédia de forma individualizada. As estatísticas são essenciais para mostrar esse problema social, mas os números não são organizados e não estão disponíveis para que a sociedade faça uma reflexão sobre o problema.
Na imprensa, existe a conduta de não divulgar casos de suicídio para evitar o “contágio de suicídio”, o que pode incentivar outras pessoas a repetirem o comportamento. No entanto, os profissionais de comunicação precisam se atentar para a necessidade de debater o problema de forma ética, com todo o cuidado que o assunto requer, por meio de reportagens que abram discussões sobre transtornos mentais e a grave situação de suicídios como um problema social e que diz respeito à saúde pública.
O assunto não deve se resumir ao “Setembro Amarelo”, quando o tema é tratado superficialmente, como mais uma campanha que leva uma cor a cada mês, sem discutir o papel das autoridades, da estrutura do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), da importância da sociedade em estar preparada para identificar os sintomas e também de orientação para que as pessoas busquem ajuda profissional.
É urgente a necessidade de desmistificar o assunto na mídia a fim de despertar na sociedade a urgente necessidade de debater mais sobre transtornos mentais, um assunto ainda considerado por muitos como “mimimi” ou “falta do que fazer”, especialmente quando se trata de mulheres, crianças e adolescentes.
Não é possível fingir que tanta gente tire a vida todos os anos, principalmente por problemas que podem ser evitados, cuja tragédia coletiva não desperta na sociedade a mesma atenção e alarde de quando se trata de um avião que cai com 200 pessoas a bordo.
*Colunista