A localidade de Bonfim (RR) surgiu no século XIX, como núcleo de comércio para atender a demanda regional da pecuária bovina, mantendo-se neste contexto econômico até o século XXI. É o que aponta o artigo intitulado “O município de Bonfim/RR: cultura e seus desafios”, publicado no “Panorama Cultural de Roraima” (Editora de UFRR, 2016), documento pioneiro organizado pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) sobre o mapeamento da gestão cultural dos municípios do estado.
Diz o texto que a região onde se localiza Bonfim era habitada por diversos povos indígenas quando os colonizadores portugueses ali chegaram, no século XVIII, em expedições para captura e venda para o comércio de escravos. Portanto, podemos pensar que a região é símbolo da resistência indígena, sendo Wapichana e Macuxi as etnias mais frequentes. Cultura indígena em alta.
Pela pesquisa, verificou-se que o nome “Bonfim” é resultado da escolha de um morador, o baiano Manoel Luiz Silva, situado próximo da atual sede do município e que deu nome à localidade em homenagem ao padroeiro de sua terra natal, o Senhor do Bonfim. O nordeste presente. Oficialmente, o município foi criado pela Lei Federal Nº 7.009/1982, com terras desmembradas do município da capital do estado.
Bonfim faz fronteira ao norte com o município de Normandia; ao sul com o município de Caracaraí; ao leste com a República Cooperativista da Guiana e ao oeste com Boa Vista e Cantá. Aqui surge um mosaico cultural, um encontro de saberes presentes. Do ponto de vista da organização da institucional da cultura, o município criou em sua estrutura administrativa, a Secretaria Municipal de Cultura. A pesquisa identificou uma biblioteca pública com espaço multiuso, anfiteatro, parque de exposições e; uma residência particular de festas e eventos, denominada Coqueiros.
Os equipamentos públicos são em geral praças e quadras cobertas de escolas. Os artistas locais citados na pesquisa supracitada são os poetas: Izac Barros, Demétrio e José de Freitas; os repentistas: Silvino e Geraldo; os compositores e cantores: Stevie Wonder e Mário e; Rosenildo, coreógrafo. Foram identificadas ainda a banda de fanfarra da Escola Estadual Aldébaro José Alcântara e o grupo de capoeira Barracão Cultural, do Mestre Pinóquio. Bonfim e sua cidade-gêmea e fronteiriça, Lethem, são embaladas pelo forró brega, o forró eletrônico e o reggae, singularidades fronteiriças amazônicas caribenhas.
De acordo com o levantamento, foram elencados os principais eventos de Bonfim, divididos por meses do ano. Janeiro: Festa do Padroeiro São Sebastião; Dia de São Sebastião, Carnaval, todas na sede municipal. Março: Dia Internacional da Mulher (Comunidade Marupá); Festa Internacional de Rodeio, na sede. Abril: Aniversário da Vila Vilena (Vila Vilena ou Vilhena); Dia do Índio em todas as comunidades; Aniversário da Comunidade no P.A Cajú. Maio: Comemoração do Dia das mães em todas as comunidades; Aniversário da comunidade P.A Renascer. Junho: Festas Juninas na sede. Julho: 1º de julho, aniversário do município e corrida internacional. Agosto: Festa do Caxiri, Dias dos Pais em todas as comunidades. Setembro: Festa da Farinha, comunidade do Manoa; Festa da Homologação, na comunidade Jacamim; Marcha para Jesus. Outubro: Festa do Padroeiro São Francisco, comunidade do Pium; Festa da Colheita, comunidade Alto Arraia; Festa de Nossa Senhora de Aparecida, comunidade do Jabuti. Novembro: Festa do Porco, comunidade São João; Aniversário do Toboca, P.A. Toboca. Dezembro: Festa da Nova Esperança, Vila Nova Esperança e; Festa do Cajú. Criado em 1990, o Festejo de Bonfim, que em 2023 foi realizado em abril, é considerado patrimônio cultural do Estado de Roraima segundo a Lei n° 1.377/2020.
Mesmo com esses dados, segundo a pesquisa, Bonfim carece de mapeamento do patrimônio cultural material e imaterial. Um trabalho de base que ganha reforço federal com a implementação dos Comitês de Cultura nos estados, iniciativa pioneira do Ministério da Cultura para 2024. O MinC implementou seus escritórios estaduais para facilitar esse reordenamento regionalizado da cultura. Assim, a cultura roraimense tem cada vez mais condições de ser valorizada. Bom para o público e para os trabalhadores e trabalhadoras da cultura.
“Iê! Viva meu Deus! Iê, viva meu mestre quem me ensinou!”, já diz o capoeirista agachado ao pé do berimbau.
Éder R. dos Santos é jornalista, sociólogo, doutorando em Geografia pela UNIR, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Modos de Vidas e Culturas Amazônicas (UNIR), da Mostra Internacional do Cinema Negro (SP) e do Comitê Pró-Cultura Roraima. É presidente da Associação Roraimense de Cinema.
Jeferson Dias – (Biriba), é mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN; Especialista em Filosofia da Religião (UERR), Pós-graduado em docência do nível Superior e Bacharel em Direito. Membro do grupo de Estudo e Pesquisas em Africanidades e Minorias Sociais (UFRR), Comitê Gestor da salvaguarda da Capoeira de Roraima e do Comitê Pró-Cultura Roraima. Mestre de Capoeira pelo Grupo Senzala e Fundador do projeto social Instituto Biriba. Foi Presidente da Federação Roraimense de Capoeira (2019 à 2022). Foi professor de Direito Penal, Ética, Bioética e Legislação Trabalhista na instituição Ser Educacional. Autor de obras autorais como livros, Cds, shows e documentários. Atua nas áreas: Direitos Culturais, Direito Autoral, Patrimônio Cultural, Políticas Culturais, Economia Criativa, Liberdade Religiosa e Cultura Popular.
Éder Rodrigues dos Santos
Jefferson Dias (Mestre Biriba)
Panorama Cultural de Roraima 2016