Os garimpeiros teriam mudado de pontos de exploração e passaram a usar novas tecnologias de comunicação para burlar as operações de retirada do garimpo da Terra Indígena Yanomami. É o que diz a nota técnica das associações Hutukara, Wanassedume Ye’kwana (Seduume) e Urihi, lançada nesta sexta-feira (26), em avaliação às ações do governo federal após um ano.
O documento conta com apoio técnico do Instituto Socioambiental (ISA) e Greenpeace. Segundo a nota, o garimpo e o desmatamento apresentaram desaceleração, mas a atividade ilegal ainda está ativa. As denúncias indicam que alguns grupos resistem e utilizam de novas estratégias para operarem na terra indígena.
“Entre as estratégias utilizadas, […] a mudança de alguns centros de distribuição da logística para focos de garimpo situados em território venezuelano (Alto Orinoco, Shimada Ocho, Alto Caura, Santa Elena); Uso de novas tecnologias de comunicação para antecipar operações”,
diz a nota.
Os grupos ainda estariam se fragmentando e descentralizando os canteiros de exploração para pontos mais distantes de grandes rios, como Couto Magalhães, Mucajaí e Uraricoera, os mais afetados, além de realizarem as atividades no período noturno.
Garimpo na Venezuela
As associações descrevem que, em julho de 2023, foi identificada a abertura de uma nova pista clandestina na região do Alto Catrimani. A pista, de acordo com a nota, é distante 3 km do limite internacional e a pouco mais de 4 km do garimpo em território venezuelano.
“No país vizinho, nesta zona, também se observou a construção de uma nova pista de pouso de quase 500 m, que era inexistente até março de 2023”, afirma o documento. “Segundo informações de terreno, o garimpo ilegal no Alto Orinoco tem se intensificando desde o início das operações em 2023, e parte de sua logística é operada no Brasil, em articulação com o garimpo do Alto Catrimani, Homoxi, Xitei, entre outros”, completa.
Garimpo e o sistema de saúde
Ainda conforme a avaliação das associações indígenas, a atividade ilegal ainda inviabiliza “um sistema de saúde que atenda a todas as comunidades e seguem morrendo por doenças tratáveis”. As áreas indígenas apresentam, também, baixa cobertura vacinal de crianças.
O perfil de óbitos em 2023 na região foi 21% de doenças infecciosas e parasitárias, 21% doenças do aparelho respiratório e 23% de causas externas, conforme dados da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). No Xitei, região que possui uma população total de mais de 2 mil pessoas, a vacinação abrangeu apenas 1,8% das crianças de até 1 ano, e 4,2% das crianças de 1 a 4 anos.
Devido ao clima de insegurança e conflito nessas zonas, os profissionais de saúde têm evitado realizar visitas em muitas aldeias, com sérias implicações para a realização de ações fundamentais de atenção básica, como vacinação, busca ativa de malária, pré-natal, etc. Foi exatamente esse mecanismo que ajudou a produzir a crise, que atingiu seu ápice em 2022.
explica o documento.
Recomendações
A nota técnica reforça que a atuação do governo federal não foi suficiente e recomenda outras ações para o enfrentamento da emergência sanitária na TI Yanomami. Uma delas é elaboração de um Plano de Proteção Territorial, que considere bloqueio fluvial e patrulha, cronograma ações de neutralização do garimpo e promoção à saúde, bem como capacitação de indígenas seu envolvimento nas ações de vigilância dos rios.