JESSÉ SOUZA

Profissionais de saúde continuam sem garantia de segurança no Cosme e Silva

Servidores fizeram protesto, no ano passado, quando mulher agrediu equipe de profissionais e quebrou equipamentos (Foto: Divulgação)

O caso da morte de uma cuidadora dentro do Abrigo Feminino, sob a administração da Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), reacende a discussão sobre a situação do Pronto Atendimento Cosme e Silva (PACS), no bairro Pintolândia, na populosa zona Oeste da Capital, tema já tratado por esta coluna no ano passado. Por lá, também, os servidores trabalham sem qualquer garantia de segurança.

Como a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) não emprega vigilantes privados, nem existe qualquer vontade política para que haja apoio de um policiamento rotineiro, os profissionais do Cosme e Silva atuam sob constante pressão e estresse devido a ameaças recorrentes. Não são apenas familiares de pacientes que chegam alterados, mas também pessoas em surto ou mesmo sob efeito de bebida alcóolica ou entorpecentes. Já houve até casos de servidores brigarem entre si.

Alguns casos de violência chegaram a ser registrados pela imprensa, no entanto, até os dias atuais, nenhuma providência foi tomada a fim de garantir a segurança definitiva de servidores e dos próprios pacientes, uma vez que para lá seguem vítimas de todo o tipo de violência. O caso de maior repercussão ocorreu numa noite de uma sexta-feira, dia 14 de abril de 2023, quando uma mulher bêbada tocou o terror naquela unidade de saúde.

Não foi qualquer tumultuo. A mulher de 41 anos agrediu uma médica, uma enfermeira, um técnico de enfermagem e ainda quebrou equipamentos (um monitor multipartidário, um oxímetro e duas bombas de infusão). A violência chegou ao ponto de a agressora chutar o rosto da médica e arrancar os cabelos de uma das vítimas. Poderia ter ocorrido uma tragédia semelhante a que vitimou a cuidadora no Abrigo Feminino, no sábado à noite.

Apesar da gravidade do caso, tudo foi esquecido. Houve um protesto dos servidores no dia seguinte ao ocorrido e uma viatura foi designada a fazer rondas por lá.  Porém, tudo voltou ao que era, e a falta de segurança continua da mesma forma naquela unidade de saúde. Talvez estejam esperando que o pior ocorra para que uma providência seja tomada. Da mesma forma que todos ignoraram a situação dos abrigos até que uma servidora morreu sob um ataque violento praticado por uma interna.

E o estresse só aumenta, pois há cerca de uma semana começaram a surgir denúncias de falta de médico para atender durante a madrugada, inclusive com relatos de que pacientes graves estão indo a óbito porque a partir das 23h estaria ficando apenas um médico. A demora no atendimento é um dos motivos de maior revolta de familiares de pacientes, que acabam pressionando e até ameaçando os profissionais de saúde que fazem a triagem.

Se não houver providências urgentes e definitivas, não tardará para voltar a ocorrer cenas semelhantes às relatadas pela imprensa no ano passado, ou até mesmo uma tragédia semelhante a que ocorreu no Abrigo Feminino. Os ingredientes estão aí, às claras, para quem quiser conferir.

*Colunista

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