A sexta-feira, 25, foi marcada pela intensa movimentação e filas de motoristas em postos de combustíveis da capital. Ao longo do dia, postos anunciavam aquilo que os motoristas mais temiam: a gasolina acabou. A equipe de reportagem da Folha percorreu diversos postos pela cidade para acompanhar a situação de medo e apreensão pela iminente falta de combustível na cidade.
Fabiano Valente, frentista em um posto de gasolina do bairro São Francisco, afirmou que desde a quinta-feira, 24, cada vez mais pessoas começaram a ir ao local. “Nós estamos na última remessa da bomba. Daqui a pouco tudo irá acabar. Vimos até algumas pessoas trazendo carotes”, relatou por volta das 15 horas de ontem. Após a equipe de reportagem retornar ao local, às 17 horas, já era possível ver os frentistas somente avisando aos carros que passavam pelo local sobre a falta da gasolina.
Em outro posto, no bairro São Vicente, foi possível observar um grande número de carros aglomerados em volta das bombas. O funcionário público Tancredo Augusto, que estava com o veículo no meio da fila, relatou que o medo é uma constante na população. “Estamos todos aqui por apreensão. Onde tem fumaça, tem fogo. Então quando vi o aglomerado já sabia que a busca por gasolina estava grande devido à falta em outros postos”, afirmou.
O gerente administrativo do posto, Geuner Carvalho, afirmou que, do jeito que o fluxo estava seguindo no local, não haveria mais gasolina para este sábado, 26. “Nós não estamos deixando ninguém usar carotes. A nossa gasolina aditivada já acabou. Atualmente, estamos com 12 mil litros da comum e uns 20 mil de diesel. Estamos apreensivos, talvez ainda tenhamos gasolina para hoje [sexta], mas sábado nós não teremos mais”, explicou.
Em bairros mais afastados do Centro, a situação não era diferente. Em um posto no bairro Cinturão Verde, o administrador do posto, Alexandre Oliveira, relatou às 16 horas de ontem que apenas 5 mil litros de gasolina estavam disponíveis. “Amanhã, nem iremos abrir. Pois o que temos aqui não vai aguentar nem o final do expediente”, contou.
Apesar da euforia da população, nem todos pareciam preocupados. A motorista Sara Pereira afirmou que só resta confiar que a falta de gasolina não seja tão repentina. “O jeito é confiar nos postos, pois se acabar a gasolina. Acaba tudo”, disse.
No Jardim Tropical, o administrador da parte operacional de um posto de gasolina, João Júnior, relatou que o movimento surpreendeu todos os funcionários na sexta-feira. No momento em que o funcionário foi abordado, por volta das 16h20, o local tinha apenas um litro de combustível.
“Nós tínhamos uns 25 mil litros de gasolina, somando aditivada com normal, no início do dia. E a correria das pessoas aqui começou a crescer na medida em que os postos de gasolina lá para o Centro foram ficando sem estoque. Nunca pensei que tanta gente viria atrás de um combustível a quatro reais”, explicou.
João também comentou que um caminhão com combustível tentou pegar um trajeto alternativo, pela BR-432, no município do Cantá, mas devido ao lamaçal do local, a carga acabou ficando presa. “Torcemos para que o caminhão chegue, pois pegar aquele trajeto é uma aventura que pode custar bem caro para quem tenta encarar”, explicou.
O office-boy Wellynton Costa contou que também esteve em busca de combustível. “Segunda-feira eu já tô vendo que nem conseguirei trabalhar. Os caminhoneiros têm razão no que eles estão fazendo. Então nós sofremos pensando neles, que estão querendo mudar o país”, comentou.
O gerente de um posto no bairro Caimbé, Edilton Leitão, relatou que em meio à longa fila de carros no local não seria possível atender a todos. “Temos menos de mil litros. Nessa fila, boa parte vai ficar sem gasolina. Eu tô me preparando para já avisar o pessoal de que estamos com quase tudo esgotado”, lamentou. (P.B)
Procon Roraima multa dois postos por preço abusivo
Dois postos de combustíveis, um no Centro e outro no bairro Caimbé, foram autuados pelo Procon Roraima. Os estabelecimentos estavam cobrando mais de R$ 4,80 por litro de gasolina.
No posto do Centro, apesar de o preço ter sido aumentado, a gasolina já teria acabado no local. Segundo o coordenador do Procon Estadual, Lindomar Coutinho, mesmo com a falta do produto, não é justificável tal prática. “Iria ser repassado um reajuste que faria o preço do combustível passar de R$ 4,80. Mas mesmo assim, não se pode aumentar o preço enquanto tal aumento ainda não foi oficializado. Não há fundamento para esse tipo de atividade”, explicou.
Lindomar também aproveitou para ressaltar a necessidade de o consumidor ficar atento a todos os produtos no comércio, pois há o risco de serem vendidos acima do preço em meio à paralisação dos caminhoneiros.
“O nosso alerta é que o consumidor fique atento para preços abusivos, não apenas de combustíveis, mas quaisquer produtos oferecidos no comércio. A multa que demos para os postos foi de R$ 380 mil, com aviso de que eles podiam ser fechados se não cumprissem com o Código do Consumidor”, ressaltou. (P.B)
Supermercados têm estoques para 15 dias
Apesar do caos da falta de combustível na cidade, supermercados ainda têm estoque para suprir a necessidade da população por pelo menos 15 dias. Em um supermercado do bairro Tancredo Neves, por exemplo, a gerente Dila Duarte afirmou que os perecíveis, que serão os primeiros a acabar com o andamento da greve de caminhoneiros, possuem uma previsão de duração de até 20 dias.
“Eu acho que conseguimos segurar bem a demanda pelo próximo mês adentro. Os perecíveis que compramos são daqui mesmo, o que facilita muito para nós e diminui a necessidade de usar a BR-174”, explicou.
Segundo o dono de uma rede de supermercados da capital, Júnior Saraiva, os perecíveis estão prejudicados, por serem encomendados de Manaus. Mas ainda assim também foi garantido que, com o que a rede disponibiliza, dá para suprir a população por pelo menos 15 dias. “Ninguém precisa estocar nada. As atividades aqui continuam normais”, frisou. (P.B)