Cerca de 500 caminhões estão parados no KM 483 da BR-174, sentido sul, próximo ao Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafir), segundo estimativa feita pelos caminhoneiros na manhã de ontem. O número representa 80% de toda a frota de caminhões que costuma realizar a rota Manaus-Boa Vista.
Nem mesmo um acordo anunciado pelo Governo Federal na noite de quinta-feira afastou os motoristas da paralisação. A proposta era suspender o protesto por 15 dias em troca de uma redução de 10% no preço do diesel durante um mês. Sobre o acordo, os caminhoneiros na BR-174 foram sucintos ao responder o que o tratado significa: “Não existiu acordo nenhum. Aquilo tudo foi uma fantasia”. Segundo o caminhoneiro Luis Amilton, o acordo consistiu em uma grande farsa. “Pegaram uns peão de rua e fizeram eles assinarem um pedaço de papel. Nada daquilo é real”, frisou.
De acordo com Benones Lima, que é caminhoneiro há 20 anos, o Governo Federal está corrompido e não busca ajudar ninguém com o tratado. “O governo não colabora com esse acordo. Ele vai ajudar por 15 dias, mas depois tudo volta ao normal. Isso é tudo enganação. Outros estados não estão seguindo isso porque, assim como nós, estamos cansados de ser enganados”, frisou.
A esposa de Benones, Vânia Lima, apoia o marido no seu posicionamento e disse que costumava ver de perto o sofrimento dele na rotina de trabalho com os altos preços de impostos. “Eu acompanho meu marido no trabalho, por que não acompanharia na paralisação? Chamam caminhoneiro de bandido, mas eu sei que meu marido não é nada disso. Ele passa por diversas lutas na estrada e com as pessoas que tinham preconceito”, explicou.
Para o caminhoneiro Nilton Pontes, o apoio da população é fundamental. “Ninguém é obrigado a apoiar agente. E vejo um apoio muito bom da população, mas sinto que se ela desse mais força, tivesse mais garra em pressionar os políticos, tudo isso aqui daria certo mais rápido”, relatou.
BLOQUEIO – No KM 483, os caminhoneiros permitem a passagem de carros, ônibus e veículos que estejam transportando materiais para postos de saúde. Quaisquer outros caminhões são parados e convocados para estacionarem no pátio lateral da BR.
Além disso, curiosamente, os caminhoneiros também auxiliam motoristas a manterem os faróis ligados enquanto trafegam pela rodovia federal. Eles aconselham os condutores a ligarem o farol e, quando o pedido é atendido, gritam: “Agora sim, campeão. Pode seguir!”.
Restaurantes na região estão lucrando com a paralisação. Em um deles, localizado dentro do pátio onde muitos dos caminhões estão estacionados, motoristas ficam acompanhando as notícias pela televisão, carregando celulares e usando o wi-fi. “O meio de semana costumava ser bem parado.
Posso dizer que o lucro daqui aumentou em mais de 100%. E com a convivência, já venho ganhando a amizade do pessoal daqui. O clima é sempre descontraído”, relatou o dono do restaurante Ryan Melo.
PRF – De acordo com a assessoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Roraima, o acordo nacional e o discurso de Michel Temer acionando a liberação de estradas não interferiram nas atividades de fiscalização do órgão junto aos caminhoneiros. “Até o momento, não houve comandos por parte do nosso superintendente sobre irmos lá liberarmos a BR-174. Como a manifestação contínua, pacífica, e organizada, sem crimes ou denúncias, continuamos observando da mesma forma”, relatou.
Também foi relatado que houve uma tentativa, por parte de agricultores, de bloquear um trecho da BR-174 nas proximidades da sede do município de Iracema. Após os policiais rodoviários federais serem acionados e conversarem com os produtores, a movimentação foi desarticulada. (P.B)