JESSÉ SOUZA

Operação policial em 17 estados, incluindo Roraima, mostra reflexos do garimpo ilegal

Armas apreendidas durante a Operação Hades em Roraima: conexão criminosa com mais 16 estados (Foto: Divulgação)
Armas apreendidas durante a Operação Hades em Roraima: conexão criminosa com mais 16 estados (Foto: Divulgação)
Armas apreendidas durante a Operação Hades em Roraima: conexão criminosa com mais 16 estados (Foto: Divulgação)

A grande operação policial desencadeada em 17 estados brasileiros no dia 1º de fevereiro, cuja investigação inicial foi em Alagoas e que inclui Roraima, só reforça no que se tornou a realidade roraimense com a conexão de todos os tipos de ilegalidades a partir do garimpo ilegal. Chamada de Operação Hades, a finalidade é desarticular organizações criminosas que movimentaram R$ 300 milhões por meio do tráfico de drogas, lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada e uso de laranjas.

Embora este caso não envolva a garimpagem, é de domínio público que o garimpo ilegal na Terra Yanomami serve de liga para outros crimes. Senão, relembremos: a atividade ilegal atraiu uma facção criminosa venezuelana que se associou ao garimpo ilegal. Não por acaso, uma grande facção brasileira não apenas se associou aos criminosos venezuelanos como também passou a atuar no garimpo ilegal, uma vez que a extração de ouro e cassiterita se dá dos dois lados da fronteira de Brasil e Venezuela.

Tal associação diz respeito não somente à oportunidade de se ter uma atividade mais difícil de ser monitorada pela polícia.  Estava se entrelaçando ainda o tráfico de drogas, de armas e de mulheres para a prostituição, atividades estas que precisam de outras ações criminosas, como a lavagem de dinheiro, que faz florescer uma rede de comércios de fachada ou o uso de laranjas que cedem suas contas correntes.

O uso comércio de fachadas é o principal produto criminoso advindo das associações criminosas, conforme mostra o caso investigado pela Operação Hades, cujos mandados de busca e apreensão foram cumpridas em empresas de vários segmentos nos 17 estados, como peixarias, aluguel de veículos, manutenção de automotores, depósitos de bebidas, transportes de cargas, dentre outras.

Aliás, em Roraima, transportadoras de cargas, especialmente de alimentos para a Venezuela, já foram alvo de outra operação que investiga transporte de ouro extraído de garimpos ilegais, em que o dinheiro era lavado por donos de supermercados e outras empresas locais. Só aí entram outros crimes, além da lavagem de dinheiro, como o de organização criminosa, contrabando, descaminho e sonegação tributária.

O transporte de ouro ilegal também era feito por meio de despacho em voos comerciais saindo de Boa Vista com destino a São Paulo, conforme apontou outra operação da PF. O grupo criminoso movimentou R$ 422 milhões em cinco anos, com valores obviamente movimentados por meio de empresas de fachada em outros estados.  

Embora sejam casos destintos, investigadas por meio de operações policiais ao longo dos anos, é possível perceber a conexão do tráfico de drogas, do garimpo ilegal e de outros crimes, incluindo a grilagem de terras e extração de madeira, que se conectam e têm um ponto em comum: a lavagem de dinheiro e uso de laranjas para movimentação de altas cifras resultantes de atividades criminosas. Daí é um passo para a corrução na política, que vai de crimes eleitorais a ação de grupos que desviam recursos públicos.

Por isso que se fala de nova geografia do crime, que se desenhou pelas demais regiões fronteiriças da Amazônia, com as organizações criminosas se associando a outros grupos de vários estados brasileiros. Todas as investigações citadas acimas envolvem investigados de vários estados, confirmando que Roraima se tornou uma terra fértil para todos os tipos de crimes e que por isso mesmo a corrupção também floresce, como temos vistos nas operações policiais.

*Colunista

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