CARNAVAL DO RJ

Com samba-enredo em homenagem aos Yanomami, Salgueiro tira 10 no quesito

Escola de samba ficou em 4º lugar

salgueiro desfile (Foto: reprodução/
Nelson Malfacini/Carnavalesco)
salgueiro desfile (Foto: reprodução/ Nelson Malfacini/Carnavalesco)

A escola de samba Acadêmicos do Salgueiro tirou 10 no quesito samba-enredo com homenagem ao povo indígena Yanomami. Após a apuração do desfile nesta quarta-feira (14), na Cidade do Samba, a escola do Rio de Janeiro ficou em 4º lugar.

No final da apuração do quesito, o apresentador Milton Cunha destacou que “em toda a lista de críticos só dava Salgueiro”. A escola recebeu 10 de todos os avaliadores do samba-enredo, mas finalizou o Carnaval 2024 com 269,0 pontos. A grande campeã foi Viradouro, com 270,0.

O samba-enredo foi escrito com ajuda de Davi Kopenawa, líder politico indígena, e levou as relações de “Hutukara”, palavra em Yanomami para planeta Terra e toda vida que há nele, com as vivências do povo indígena em Roraima. À FolhaBV, o líder compartilhou que a homenagem era de grande importância para os Yanomami.

“É um canto muito forte, faz nos sentirmos mais fortes também. Outros povos indígenas vão escutar a música e sentirão a força da energia da natureza, que tem sido destruída pelo desmatamento. A música canta tudo que está afetando nosso planeta. Nossa água está poluída e cheia de mercúrio”, afirmou.

Confira o samba-enredo

“É HUTUKARA! O chão de Omama
O breu e a chama, Deus da criação
Xamã no transe de yakoana
Evoca Xapiri, a missão…

HUTUKARA, ê! Sonho e insônia
Grita a Amazônia, antes que desabe
Caço de tacape, danço o ritual
Tenho o sangue que semeia a nação original
Eu aprendi português, a língua do opressor
Pra te provar que meu penar também é sua dor
Falar de amor enquanto a mata chora, (bis)
É luta sem Flecha, da boca pra fora!

Tirania na bateia, militando por quinhão,
E teu povo na plateia, vendo a própria extinção
“Yoasi” que se julga: “família de bem”, (bis)
Ouça agora a verdade que não lhe convém:

Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,
Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,
Quando o medo me partiu
Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil
Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!
Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom
Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom
Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,
Não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”

Napê, nossa luta é sobreviver!
Napê, não vamos nos render!
YA TEMI XOA! aê, êa! (bis)
Meu Salgueiro é a flecha
Pelo povo da floresta
Pois a chance que nos resta
É um Brasil cocar!”