"INSUSTENTÁVEL"

Trabalhadores dos DSEIs Yanomami denunciam condições precárias de trabalho

A situação afeta os trabalhadores dos polos Auaris, Polimiú, Surucucu, Alto Carrimani e Pawau.

Trabalhadores adoecem por falta de água potável e são impedidos de levar a própria (Foto: Reprodução/Redes sociais)
Trabalhadores adoecem por falta de água potável e são impedidos de levar a própria (Foto: Reprodução/Redes sociais)

O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Privados de Serviço de Saúde (Siemesp) de Roraima denuncia as condições de trabalho vividas pelos profissionais que atuam em unidades do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y). A situação afeta os trabalhadores dos polos Auaris, Polimiú, Surucucu, Alto Carrimani e Pawau.

Conforme os ofícios da Ação Trabalhista protocolada pelo Siemesp, os profissionais de saúde das três primeiras unidades citadas sofrem com a falta de água potável, devido à “negligência na manutenção adequada das caixas d’água e no tratamento com cloro”. A alternativa encontrada pelos trabalhadores foi de levar a própria água para a região, porém eles foram impedidos de fazerem isso.

“Em todo o território Yanomami é alarmante observar que os profissionais sem acesso à água de potável estão enfrentando problemas de saúde, como diarreia. A situação é ainda mais crítica nas regiões próximas ao garimpo”, afirmou a presidente do sindicato Joana Gouveia em um dos ofícios concedidos à FolhaBV.

A presidente ressaltou que a água disponível nessas áreas está sujeita à contaminação, seja pelas fezes dos moradores, atividades de garimpo ou por resíduos de animais nos rios. No Polo Palimiú, a situação se agrava com a presença de um poço aberto, representando um risco adicional à qualidade da água. Quanto às unidades Surucucu e Palimiú, ela relatou que o consumo da água sem tratamento adequado faz com que os profissionais adoeçam.

A água retirada de poço artesiano (Foto: Reprodução/Redes sociais)

No documento, foi solicitado que os trabalhadores doentes por Covid-19, malária e outras patologias sejam transferidos para a cidade, a fim de receberem tratamento adequado e acompanhamento especializado. Também pedem que os profissionais que enfrentam problemas psicológicos devido às situações enfrentadas em áreas indígenas recebam o devido suporte e acolhimento.

“Tudo que o sindicato quer é que seja dada uma atenção especial aos trabalhadores e que vejam eles como cuidadores. Infelizmente, isso não acontece. Eles dão tudo de si e muito suor para cuidar dos indígenas que moram lá. Para isso, precisam ter melhores condições de trabalho, ter água tratada para beber e estarem bem de saúde”, comentou Joana.

Em vídeo compartilhado nas redes sociais do Siemesp, é possível notar a cor marrom da água dentro da caixa d´água, do poço artesiano da unidade, e no momento em que sai da torneira.

Veja o vídeo:

Ameaças no ambiente de trabalho

Em outro ofício, é relatada uma situação de ameaça presenciada pelos profissionais de saúde no Polo Base Alto Catrimani. Segundo informações, no último sábado (10), por volta das 19h, um morador da comunidade indígena teria invadido a unidade durante o momento de descanso da equipe, fez ameaças violentas e teria mencionado o uso de uma espingarda.

O motivo teria sido o desligamento da internet no polo, cujo uso é pessoal e há um limite de horário para ser utilizada. No documento consta que o homem já havia realizado outras invasões ao posto de saúde antes.

Além disso, os trabalhadores relatam insegurança devido à falta de alimentação aos pacientes, pois o posto foi alvo recente de roubo. Toda a situação relatada pelos profissionais teria tornado o “ambiente de trabalho insustentável”.

“O sindicato solicita, com urgência, a retirada imediata da equipe de profissionais de saúde da área, visando resguardar a integridade física e psicológica dos funcionários. Ressaltamos que muitos profissionais evitam relatar situações de violência e insegurança à gestão, por receio de retaliações, o que reforça a gravidade da situação enfrentada”, diz a presidente do Siemesp no ofício.

Outro lado

A FolhaBV solicitou um posicionamento do Ministério da Saúde a respeito das situações enfrentadas pelos trabalhadores dos DSEI Yanomami. O órgão não se manifestou até a publicação da matéria.