Situação das queimadas só piora, inclusive a população da Capital pôde sentir os reflexos

Na Serra do Tepequém, incêndio florestal abaixo do Platô lança fumaça sobre moradores da vila durante 24 horas, sem trégua

O anoitecer em Boa Vista, nesta segunda-feira, foi marcado por uma intensa cortina de fumaça que se estendeu do bairro Caçari, na zona Leste, até o Cidade Satélite, na zona Oeste. É muito provável que seja resultado de fogo nos lavrados e matas do outro lado do Rio Branco, no Município do Cantá, de onde já era possível observar, desde o início da tarde, que colunas de fumaça se formavam, as quais fatalmente chegaram à Capital pela ação do vento.

O fumaceiro foi tão intenso que o Centro de Boa Vista, por toda noite, parecia estar encoberto por neblina, revelando que a questão dos incêndios se ampliou e a tendência é piorar até que as chuvas cheguem, em abril. Nas redes sociais, relatos de internautas apontavam que toda a cidade foi atingida pela fumaça, provocando dificuldade para respirar, além de irritação na garganta e nos olhos. Isso deverá ser refletido a partir de hoje no atendimento nos hospitais e postos de saúde, especialmente a crianças e idosos.

Situação muito crítica ocorre há dias na Serra do Tepequém, o principal ponto turístico de Roraima, no Município do Amajari, Norte do Estado, onde o fogo vem destruindo há várias semanas a vegetação do lavrado e das florestas. A fumaça é tão intensa na Vila Tepequém que o ar ficou irrespirável, a ponto de famílias com bebês recém-nascidos terem decidido ir embora.

Se a situação continuar ou piorar ainda mais, é possível que seja necessário tomar medidas mais drásticas para garantir a saúde dos moradores por causa da fumaça e da fuligem que atingem a vila sem trégua, por 24 horas. O fogo avança nas florestas ao sopé da serra, com os paredões servindo de chaminé que lança o fumaceiro em toda vila. É uma cena de desespero que não se via há cerca de 13 anos, durante o último grande incêndio.

Não há muito o que fazer, pois as autoridades perderam qualquer controle da situação, pois ficou visível a falta de planejamento, de estrutura e de pessoal para se fazer presente em vários locais simultaneamente. Em Tepequém, somente uma aeronave adaptada para combater incêndios florestais seria a solução. Mas isso é impensável diante de uma realidade em que as autoridades não se preocuparem sequer em preparar e equipar brigadistas nos municípios. É um desleixo imperdoável.

Não existe qualquer estratégia de gerenciamento de incêndio de longo prazo, que deveria incluir convênios ou parceria com outros estados ou até com organismos internacionais para se ter aeronaves de combate a incêndios em períodos críticos de seca no Estado. Não existe interesse muito menos vontade política para pensar em um plano de longo prazo para o enfrentamento a grandes incêndios, como estão ocorrendo neste momento em Roraima.

Em Tepequém, moradores voluntários arriscam suas vidas na base do improviso para tentar conter o avanço das chamas com três bombas costais e alguns abafadores doados. Só houve promessa de formação de um grupo de brigadistas, cujo curso deveria ter ocorrido em dezembro passado. O mesmo ocorre em outras regiões, como em Pacaraima, onde indígenas se voluntariam para fazer o impossível a fim de conter o avanço das chamas.

Os moradores de Boa Vista puderam sentir ontem um pouco do impacto imediato das queimadas descontroladas. No entanto, no Amajari, essa é a realidade que vem sendo sentida há várias semanas, mesmo que lá abrigue um ponto turístico que é uma vitrine para o Estado. Se nem da vitrine os políticos estão cuidando, então é de se imaginar o que ainda poderá ocorrer até a chegada das chuvas.

Temos ainda quase um mês e meio de forte estiagem, o que significa que a questão dos incêndios poderá piorar em outros municípios. Os próximos da fila são Mucajaí e Iracema, conforme as tragédias que se repetem historicamente. Tem muito fogo para arder e desnudar a incompetência e o desinteresse dos políticos e de todas as demais autoridades que nunca fizeram questão de ter uma estratégia desde o grande incêndio de 1997/1988.

Salve-se quem puder!

*Colunista

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