Obviamente que não há nenhum impedimento para que o turista vá à Serra do Tepequém, no Município do Amajari, nesse momento crítico de seca e incêndios florestais, caso queira conferir pessoalmente a situação. No entanto, é preciso que se saiba que irá encontrar um cenário de cachoeiras completamente secas, com apenas fios d’água, e uma intensa cortina de fumaça que se abate sobre a vila, sem trégua, por 24 horas.
Portanto, qualquer iniciativa de atrair turistas para banho de cachoeira ou passeio em roteiros turísticos é descabida ou até mesmo uma ação de má-fé, pois os moradores estão sofrendo com o ar poluído, com sangramento no nariz, náuseas e irritação nos olhos e garganta. Inclusive o Anexo Tepequém da escola estadual suspendeu as aulas presenciais. Quem pode fugir da poluição do ar está deixando a serra porque a situação ficou insustentável.
Não há como calcular os prejuízos, uma vez que o turismo é a única fonte de renda dos moradores de Tepequém. E as autoridades têm a maior parcela de culpa, tanto as estaduais e municipais quanto as federais, pois esse cenário era perfeitamente previsível e poderia ter ocorrido um planejamento que teria evitado o alastramento do fogo a ponto de a fumaça torna-se uma grave ameaça à saúde pública.
As vilas do Paiva e do Cabo Sobral, que compõem o Distrito Tepequém, ficam dentro de imensa bacia no alto da serra, cuja geografia é propícia para que a fumaça se acumule com a ação do vento que sopra toda poluição para dentro do côncavo formado pelas elevações ao longo de toda borda da serra, resultado do incêndio na imensa floresta que cerca Tepequém.
A situação só não está pior porque os moradores formaram um grupo de voluntários que se arriscam mata adentro, no alto da serra, para tentar aplacar a ação da fumaça, combatendo os focos de incêndios a fim de evitar que as chamas avancem ainda mais. E isso sem qualquer ajuda ou colaboração do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Municipal, pois as autoridades não veem motivo de ter como prioridade o principal ponto turístico de Roraima.
Alguém precisa ser responsabilizado por isso, tanto pelos incêndios quanto pela falta de planejamento que poderia ter evitado a amplitude do problema. Existe monitoramento por satélite e drones que pode identificar a origem do fogo e, consequentemente, quem são os responsáveis e se foi um ato criminoso ou não. Sabe-se que abaixo da serra existem várias fazendas e assentamentos onde se costuma usar o fogo para abrir áreas para pastos ao gado.
É possível afirmar que as autoridades falharam grosseiramente. O governo estadual, por meio da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), teve quatro anos para contratar brigadistas, mas só realizou seletivo no fim do ano passado e até hoje não contratou os 240 aprovados. O mesmo ocorreu com a Prefeitura do Amajari, que somente nesta quarta-feira, 21, contratou dez brigadistas, com anos de atraso e em número obviamente insuficiente.
Para piorar a situação, a ponte de madeira sobre o Igarapé do Balde, na RR-203, recém reformada pela Prefeitura do Amajari pelo valor de mais de R$500 mil, cedeu novamente. Coincidentemente no mesmo momento de decreto de calamidade. Quem transita por essa estrada viu que foi usada muita tinta na reforma, o que deixou a ponte bem colorida e visualmente bonita, mas não o suficientemente segura, conforme percebeu-se agora.
Então, esse é o cenário no Município do Amajari, ao Norte de Roraima, que historicamente integra o chamado “arco do fogo”, fato este que não é suficiente para que as autoridades se prepararem para os períodos de seca. Logo, é importante frisar: alguém precisa ser responsabilizado por todo esse descaso.
Com a palavra, os órgãos fiscalizadores e de controle…
*Colunista