O fogo que vem assolando Roraima nas últimas semanas fez disparar as emissões de carbono por incêndios florestais do país em fevereiro. Até o dia 27, as queimadas emitiram 4,1 megatoneladas de carbono, índice mais alto para o Brasil em ao menos duas décadas. Os dados são do observatório climático e atmosférico europeu Copernicus, que rastreia essas emissões desde 2003, e foram divulgados nesta quarta-feira (28).
Cidades de Roraima têm ficado encobertas por fumaça, incluindo a capital, Boa Vista. Outra área impactada é a Terra Indígena Yanomami, que recebe ar poluído em consequência de incêndios originados nos municípios de Amajari e Mucajaí.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o estado foi responsável por quase metade (47,8%) dos focos de incêndio de todo o Brasil neste mês, período atípico para a alta nas queimadas na região.
Até agora, Roraima teve 2.601 focos, número quase 12 vezes maior do que o registrado em fevereiro do ano passado (168) e próximo dos 2.659 focos que ocorreram na região em 2023. Em razão dos incêndios e da estiagem que agrava o problema, o governo de Roraima decretou emergência em nove municípios na última semana.
Desde janeiro, o país vem registrando um número atipicamente alto de queimadas para esta época do ano. No mês passado, foram 4.555 focos, enquanto fevereiro teve outros 4.182 —aumento, respectivamente, de 83% e 105% na comparação com o mesmo período de 2023.
Os dados do Copernicus mostram ainda que as emissões de carbono também foram recordes em fevereiro na Venezuela e na Bolívia, impulsionadas pelas chamas no norte da amazônia continental.
“Foi detectado um aumento significativo no número de incêndios, sua intensidade e emissões estimadas em toda a América do Sul tropical na segunda metade de fevereiro. As regiões mais afetadas foram o nordeste da Venezuela, Bolívia, o estado de Roraima no Brasil e a Colômbia”, disse, em nota, o observatório.
Na Venezuela, as emissões até 27 de fevereiro chegaram a 5,2 megatoneladas de carbono, enquanto na Bolívia a taxa foi de 0,3 megatoneladas. O órgão ressalta que o pico da temporada de incêndios florestais na região amazônica como um todo normalmente ocorre em setembro e outubro.
“Muitas partes da América do Sul têm enfrentado condições de seca, o que contribuiu para o aumento do risco de incêndios”, explica Mark Parrington, cientista sênior do Serviço de Monitoramento da Atmosfera do Copernicus, em comunicado. “O transporte da fumaça está cobrindo uma grande área da região e causando aumento da poluição do ar em áreas povoadas.”
A seca que vem atingindo a bacia amazônica é intensificada pelas mudanças climáticas, pelo El Niño e pelo desmatamento.