A empresa terceirizada que fabrica e fornece comida aos indígenas da Casa de Apoio a Saúde do Índio (Casai) procurou a Folha para contestar as informações apontadas em um relatório e divulgadas na reportagem “Relatório aponta morte de 177 Yanomami”, na edição do dia 23, sexta-feira, a qual afirma que estaria fornecendo comida estragada aos indígenas.
Segundo o gerente regional da empresa, Eduardo Lúcio, a comida é de boa qualidade, acompanhada por nutricionistas e é servida de acordo com as especificações e recomendações médicas da própria Casai. “Desconhecemos até esse relatório que foi entregue à Folha, por quem foi elaborado e qual foi o técnico responsável que o assinou”, frisou.
Ele afirmou que a empresa segue todas as normas de segurança alimentar e que tem todos os laudos da Vigilância Sanitária. Comentou que são mais de duas mil refeições diárias servidas durante o café, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da noite, com acompanhamento de um quadro técnico e nutricional.
Ele ressaltou que, nestes seis anos em que trabalha na Casai, nunca houve denúncia ou reclamação por parte dos indígenas em relação à qualidade da comida. “O que acontece é alguns indígenas reclamarem da dieta que o médico recomenda e que seguimos à risca, pelo pouco sal na comida, por exemplo, ou de querer um determinado alimento que não pode ser fornecido e eles se queixam disso”, explicou.
Segundo o gerente, a denúncia surgiu mediante a proximidade do processo licitatório que irá definir a empresa que vai continuar fornecendo a alimentação na Casai, que deve acontecer nos próximos meses. “Estamos na Casai há seis anos e nunca tivemos nenhuma reclamação dos nossos serviços. Mas essa denúncia aparece justamente depois que contestamos o edital na Justiça Federal, o qual direcionava abertamente o processo para outra empresa. Mas nos foi concedido um Mandado de Segurança e algumas pessoas não gostaram”, afirmou, complementando que vai entrar com pedido junto ao Ministério Público Federal para que sejam apurados os fatos e que acompanhe o processo licitatório.
NUTRICIONISTA – A Folha foi até a cozinha da Casai, onde os alimentos são processados e fornecidos aos indígenas, e conversou com a nutricionista Lorena Silva da Silva, que está há um ano como responsável pelo acompanhamento e fiscalização da alimentação no local. Ela explicou que as indicações de dieta são prescritas pelos médicos e enfermeiros que passam para avaliação da nutricionista da Casai, a qual repassa a prescrição avaliada de cada paciente para a nutricionista da cozinha.
“A alimentação de cada paciente é feita mediante essa prescrição médica e avaliada pela nutricionista da Casai. Acompanhamos essa alimentação até ser entregue ao paciente e fiscalizamos se ele realmente comeu”, disse. Explicou que cada prato é feito individualmente e colocada a etiqueta na bandeja com o nome do paciente, que é chamado e entregue a refeição.
Lorena afirmou que, neste período em que está trabalhando na Casai, não conhece qualquer reclamação de comida estragada. “Nunca tivemos nenhum caso de intoxicação alimentar ou de ter comida estragada, até porque trabalhamos com pesquisa de satisfação e nunca tivemos nenhuma reclamação”, frisou.
CASAI – A Folha procurou a diretora da Casai, Rosane Weddigen, que disse que só poderia se pronunciar sobre o assunto com autorização da chefe do Distrito Yanomami, Maria de Jesus, que, por telefone, não a autorizou e ainda afirmou à equipe de reportagem que não iria se pronunciar sobre o assunto. (R.R)
Política
Empresa diz que comida servida aos índios doentes é de qualidade
Gerente afirma que denúncia foi feita às vésperas de ocorrer uma nova licitação, cujo edital foi contestado na Justiça