FIBRA ÓPTICA EM RISCO

Entenda por que a estiagem ameaça a internet e a telefonia em Roraima

Em meio ao rigoroso período seco, Estado tem liderado o ranking nacional de focos de incêndio, que também podem atingir a fibra óptica

Queimadas às margens da rodovia federal BR-174 (Foto: Divulgação)
Queimadas às margens da rodovia federal BR-174 (Foto: Divulgação)

A maior estiagem dos últimos tempos em Roraima ameaça, além da segurança e a saúde da população, a comunicação do Estado com o mundo, por meio da internet e da telefonia. É o que alerta o especialista em redes para computadores, Íkaro Bezerra.

Isso porque, com exceção de trechos como o da reserva indígena Waimiri-Atroari, o único cabo de fibra óptica que liga Boa Vista à infraestrutura de internet brasileira a partir de Manaus fica sobre os postes de energia às margens da rodovia federal BR-174. É exatamente onde são frequentes os incêndios.

Mapa mostra rotas de fibra óptica pelo Brasil (Foto: RNP)

“Tem algumas rotas aéreas que são as dos postes, mas a principal é subterrânea [cabo enterrado a 1,2m de profundidade], principalmente na terra indígena”, pontuou. “As queimadas são uns dos fatores de interrupção do sinal. Afetam geralmente os cabos dos postes de energia, onde pega fogo na vegetação embaixo dos cabos. O cabo não aguenta o calor. Às vezes, como tem pé de caimbé, árvores próximas à fibra óptica, essa árvore pega fogo – que chega ao cabo e o danifica. Quando o cabo é partido, é onde tem a interrupção do sinal”.

Em 2024, por causa do rigoroso período seco impulsionado pelo fenômeno El Niño, Roraima já registrou 2.817 focos de incêndio. Nessa quarta-feira (6), o Estado liderou mais uma vez o ranking nacional dessa estatística, com 147 registros. As informações são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

É nesse cenário que uma simples chama pode virar um incêndio incontrolável a ponto de chegar aos postes à beira da rodovia. O calor consegue romper um fio altamente resistente, composto inclusive por uma fibra chamada kevlar, a mesma usada para coletes à prova de bala (como na ilustração abaixo).

Exemplo de cabo de fibra óptica (Foto: Cablena)

Quando esse tubo rompe, o cabo que vem da Venezuela pelas linhas de transmissão de Guri é ativado para tentar sustentar a internet de Roraima, mas ele só consegue atender 5% da demanda local. “Ainda fica lento. Você consegue enviar uma mensagem, mas não consegue usar a internet normal”, explicou o especialista.

A Oi, detentora da fibra óptica que fornece internet ao Estado, e sua parceria de infraestrutura de redes V.Tal, se recusaram a comentar detalhes como os prejuízos contabilizados pelo rompimento do serviço, especialmente no contexto da severa estiagem. No entanto, Íkaro Bezerra estima que cada quilômetro de fio que eventualmente precisa ser trocado pode custar R$ 4 mil.

Segundo ele, a solução para o problema seria a instalação da fibra por meio das torres do Linhão de Tucuruí, porque diminui a possibilidade de as ações humana (obras na rodovia e queimadas) e natural (queda de árvores e animais escavadores) interromperem o serviço. “É quase zero o índice de rompimento desse cabo”, pontuou o especialista, que também elogia a construção da infovia que liga Barcelos a Boa Vista, por meio de cabos submersos pelos rios amazônicos.

“É uma alternativa, mas não é uma solução. Esse cabo também sofre com danos naturais e humanos […]. Se esse cabo chegar a ser afetado, precisarão de até 30 dias pra resolver”.

Queimadas também ameaçam a telefonia

Íkaro Bezerra confirmou que o rompimento da fibra óptica também chega à telefonia, porque ela depende da mesma infraestrutura da internet, uma vez que as operadoras desativaram a comunicação via satélite. “Antigamente, quando não tinha fibra óptica, a gente conseguia ligar e hoje a gente não consegue. Por quê? Hoje a ligação é muito mais limpa, então ela exige muito mais dados”, disse. Ou seja, quando não existe nem um sinal sequer de internet ou telefonia, é porque os dois cabos de fibra ativos em Roraima estão com problemas.