Em Roraima, a qualidade da água vem se tornando alvo de preocupações, devido às constantes denúncias de garimpo ilegal nas margens do Rio Uraricoera, que deságua no Rio Branco. Mas, até que ponto essa atividade afetaria os consumidores da água que chega às torneiras de Boa Vista?
Segundo a professora de biologia especializada em água doce, pesca e interior, do Centro de Estudos da Biodiversidade (CBio), Núbia Gomes, apesar das preocupações com o garimpo serem válidas, é preciso atenção com a forma que a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caerr) capta e trata a água, que já chega poluída.
“Fizemos uma pesquisa há dois anos. Passamos por rios como Amajari, Uraricoera, Tacutu e Rio Branco. Na época, o ponto mais crítico foi aquele onde é despejado o que vem da estação de tratamento de esgoto. Encontramos agrotóxicos, chumbo e coliformes fecais. Sobre os agrotóxicos, existe uma dissertação que já comprovou que a Caerr não consegue retirá-los no tratamento. Sobre o chumbo, geralmente ele vem da gasolina da Venezuela que depois de usada a fumaça o lança no ar, daí cai com a chuva no rio”, dissertou.
De acordo com Núbia, apesar do resultado na época ter sido preocupante, o problema se estende pela maneira com a qual a água é tratada e distribuída. Às vezes, em tubulações que podem apresentar problemas acarretando poluição.
“O tratamento é feito muito rápido para o tipo de limpeza. Às vezes a estação pode tratar muito bem a água, saindo perfeitamente, mas ainda existe outro problema. Alguns canos que passam pelos bairros da capital, podem ter defeitos que permitem a invasão de corpos estranhos”, relatou.
Sobre o garimpo, a professora do CBio disse que os pontos onde a atividade é praticada são encontrados com facilidade. Os impactos do garimpo – comentou – podem ser percebidos através do Google Maps.
“Os três pontos que observamos como os de maior concentração de garimpo são a do Furo Santa Rosa, na estação ecológica de Maracá, município de Amajari, em área indígena yanomami, e na parte norte do Rio Maú, nas proximidades da fronteira entre Roraima e a Guiana. Ao abrir o Google Maps mesmo e observar essas áreas, é possível ver por satélite as atividades do garimpo interferindo na coloração dos rios e locais onde estão situados”, informou.
Os impactos ambientais causados pelo garimpo podem ser os mais diversos. Entre os quais, desmonte hidráulico, contaminação do solo, ar e água com metais pesados, principalmente mercúrio e chumbo, extinção de vegetações e ameaça à fauna local.
“Apesar de, em nossas pesquisas, não trabalharmos com mercúrio, sabemos que a presença dele está bem maciça nessas regiões mais ao norte do estado apenas ao ver a coloração. O que é preocupante é o seguinte: a água que vem de lá segue para Boa Vista, e passa pelo tratamento da Caerr. Mas o tratamento é apropriado? Eu acredito que não”, sintetizou.
Além disso, um terceiro fator que parece contribuir para a poluição de águas é a presença de construções em margens de igarapés. Em alguns casos, construções praticamente dizimaram a existência deles.
“A prefeitura nunca costumou ter pena de igarapés aqui na cidade. Eles passam por cima mesmo, e destroem sem perdão. Esse é o caso do Igarapé Mirandinha, que virou praça depois do que foi feito por lá.”, acrescentou.
PREFEITURA – A Prefeitura de Boa Vista informou que para aprovar o início de uma obra, a empresa executora dos serviços deve apresentar estudos ambientais de viabilidade da obra. Todas as etapas do licenciamento ambiental são fiscalizadas e devem ser respeitadas e cumpridas pela empresa.
CAERR – A Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caerr) informou que executa todas as fases necessárias ao tratamento completo da água fornecida à população, de acordo com rigoroso processo de análise da água, seguindo o padrão adotado em outras companhias do país, atendendo à Portaria nº 2914/11, do Ministério da Saúde, que regulamenta os padrões de potabilidade da água para consumo humano.
“No interior, o processo de análise e tratamento da água é o mesmo. Os municípios de São Luís, São João do Baliza, Caroebe, Alto Alegre, Mucajaí, Caracaraí, Rorainópolis e Normandia já possuem laboratórios, todos equipados e preparados para o procedimento padrão das análises.”, ressaltou.
A empresa afirmou que mantém o NCQ (Núcleo do Controle de Qualidade) que realiza em laboratórios próprios, na capital, a análise da água tratada a cada uma hora, para verificar se a água está de acordo com as normas do Ministério da Saúde.
“O controle de qualidade começa antes mesmo da estação de tratamento, por uma equipe de técnicos e que está sempre estudando, acompanhando e fiscalizando as condições das fontes de captação. Nosso trabalho é sério e muito importante”, afirmou a química industrial e chefe do NCQ, Maria da Conceição Carvalho Rocha.
“Após as etapas de tratamento (captação, coagulação, floculação, decantação, filtração, correção de ph, cloração e fluoração) a água é armazenada em reservatórios e depois enviada através de bombas para os reservatórios elevados e por gravidade a água é distribuída aos usuários.”, finalizou a nota.
A Caerr oferece canais de comunicação para que clientes solicitem serviços ou façam denúncias e reclamações, pelo número 0800.280.9520, das 7h às 18h, de segunda a sexta-feira, sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h, pelo aplicativo Caerr Mobile (disponível para Android) ou por meio do portal da Companhia, www.caer.com.br. (P.B)