JESSÉ SOUZA

Seca severa impõe mais uma dura realidade para pequenos produtores rurais

Pequeno produtor de banana do Trairão abre caminho com pá, dentro do rio, para seguir viagem (Imagem: Reprodução)

A seca severa que castiga boa parte de Roraima impõe uma dura realidade para as populações do interior do Estado, especialmente ribeirinhos e pequenos produtores rurais, os quais têm nos rios a única forma de escoar seus produtos. Para se ter uma ideia, o principal e mais volumoso rio da região Norte do Estado, o Uraricoera, secou a ponto de se poder atravessar a pé em certos trechos, semelhante ao que ocorre com o Rio Branco.

A situação difícil dessas pessoas pode ser traduzida por meio de um vídeo que vem sendo divulgado desde o fim de semana de um produtor de banana da região do Trairão, no Município do Amajari. Como o rio secou, o produtor é obrigado a seguir abrindo caminho nos bancos de areia, dentro do rio, com uma pá, para poder empurrar a pequena embarcação carregada de cachos de banana até encontrar um ponto navegável para seguir viagem.

A situação revela outro problema: os moradores daquela região só têm o rio para escoar a produção porque falta uma ponte naquela vicinal rio acima, os obrigando a ir por água, se quiserem vender seus produtos e não passar necessidade. A reivindicação é antiga, mas as autoridades municipais, estaduais e os parlamentares fazem ouvido de mercador.

Inclusive, o produtor narra no vídeo que recentemente um deputado foi lá apenas para lazer e sequer tocou no assunto. Ele escoa a sua produção de banana por meio de três canoas, das quais afirma que uma delas já se deteriorou de tanto arrastar o casco nos bancos de areia e pontas de predas. Inclusive teve que dispensar os trabalhadores e implora por emendas parlamentares para que se construa a ponte.

A propósito, Amajari foi uma das 12 prefeituras que recebeu recursos emergenciais no inverno do ano passado, faltando 100 dias para as eleições, mas a única obra que se tem notícia foi a pintura da estrutura de madeira da ponte do Balde, entre as vilas Três Corações e Brasil, pelo valor de R$600 mil. No início do mês, a ponte teve que ser interditada porque a estrutura cedeu e ameaça desabar, mostrando que a recuperação foi apenas uma maquiagem.

O inverno está se aproximando, faltando cerca de três semanas para as primeiras chuvas, o que significa que a tragédia de seca, queimadas e fumaça deverá ser substituída por atoleiros, alagamentos e pontes de madeiras arrastadas pela enxurrada, obrigando as autoridades a novamente agirem na base do improviso, já que não existe nada organizado para agir no verão nem no inverno.

Foi sempre assim desde sempre, com as autoridades alegando que não tiveram tempo para agir no verão porque estavam atuando no inverno; e vice-versa, em um ciclo vicioso em que rola muitos recursos emergenciais a cada decreto de calamidade. E os órgãos fiscalizadores, incluindo as Câmaras municipais, também seguindo com suas alegações de encontrar justificativas para nunca atuarem como deveriam.

*Colunista

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