Rubens Savaris Leal
No mundo contemporâneo, a máximo “tempo é dinheiro” nunca pareceu tão literal. Com a evolução constante das sociedades capitalistas, o conceito de que cada aspecto da vida humana pode ser visto sob a lente do negócio se tornou uma verdade incontestável para muitos. A visão provocativa de Gene Simmons em seu livro “Eu, S.A.: Construa um exército de um homem só, liberte seu deus interior (do rock) e vença na vida e nos negócios” encapsula essa realidade com uma franqueza rara. Nesta obra, Simmons não apenas revela os princípios que guiaram seu sucesso fenomenal como baixista do KISS, mas também propõe uma filosofia de vida onde tudo, desde o trabalho até a religião e as bandas de rock, opera como um negócio.
Esta abordagem de Simmons à vida e ao sucesso não é meramente uma reflexão sobre sua própria trajetória, mas uma proposta de como qualquer pessoa pode adotar uma mentalidade empresarial para otimizar suas ações e alcançar seus objetivos. Ao afirmar que “Tudo é um negócio”, Simmons destaca a importância de adotar práticas de gestão financeira pessoal, estabelecimento de metas e busca por lucratividade em todos os aspectos da vida. Essa visão sugere que, ao nos vermos como empresas individuais, podemos aplicar estratégias de sucesso comercial ao nosso desenvolvimento pessoal e profissional.
A ideia de que cada indivíduo deveria ter um orçamento, uma contabilidade e um objetivo lucrativo reflete uma abordagem pragmática à vida. Nesse sentido, Simmons não está apenas falando de ganhos financeiros, mas de lucrar no sentido mais amplo da palavra: alcançar resultados positivos em todas as áreas da vida. Seja na carreira, nas relações pessoais, na saúde ou na educação, a mentalidade de tratar cada empreitada como um negócio implica em planejamento, investimento e análise de retorno sobre esses investimentos.
Porém, é crucial refletir sobre as implicações dessa mentalidade. Enquanto a abordagem de Simmons encoraja a autoresponsabilidade e a proatividade, ela também pode levar a uma visão excessivamente mercantilista da vida, onde valores como a solidariedade, a arte pelo amor à arte e o altruísmo podem ser subvalorizados. A noção de que tudo deveria visar a uma “intenção de lucro” pode, inadvertidamente, promover uma cultura de individualismo exacerbado, onde o sucesso pessoal é alcançado à custa do bem-estar coletivo.
Neste contexto, é essencial encontrar um equilíbrio. A sabedoria em tratar a si mesmo e suas empreitadas como negócios reside na capacidade de aplicar disciplina, planejamento e visão estratégica sem perder de vista os valores humanos fundamentais. Isso significa reconhecer a importância da rentabilidade e da sustentabilidade em nossas ações, ao mesmo tempo em que cultivamos a empatia, a generosidade e a busca por um propósito maior que transcenda o lucro material.
O ensinamento de Simmons, portanto, serve como um convite à reflexão sobre como podemos otimizar nossas vidas através de uma gestão pessoal eficaz, sem esquecer que o verdadeiro sucesso é multidimensional e inclui nossa contribuição para uma sociedade mais justa e solidária. Em suma, enquanto adotamos a mentalidade de que “Você é um negócio”, não devemos esquecer que os negócios mais duradouros e respeitados são aqueles que contribuem significativamente para o bem-estar da comunidade e do mundo ao seu redor.
Portanto, a proposta de Gene Simmons, embora provocativa, não deve ser vista como um imperativo para transformar cada aspecto da vida em uma transação comercial fria, mas sim como um incentivo para adotar uma gestão pessoal consciente e estratégica. A chave para uma vida plena e bem-sucedida reside não apenas na busca por lucro, mas também na habilidade de harmonizar essa busca com valores éticos e com uma profunda compreensão da interconexão entre nosso bem-estar e o da sociedade como um todo.
Professor no curso de Administração/UFRR