Não há mais nada a fazer a não ser contabilizar os estragos. Os incêndios florestais em Roraima estão completamente fora de controle, com as autoridades em todos os níveis de governo devendo explicações por não terem se preparado para o que as agências internacionais de meteorologia alertavam desde o ano passado a respeito da seca severa que estava por vir, devido ao El Niño, e suas consequências, a exemplo dos incêndios.
A realidade dos fatos é que os governos precisam adotar uma série de ações a partir de já, a fim de sair do discurso vazio e da mesmice histórica de somente agir quando o fogo está fora de controle ou de alegar que se trata de uma questão cultural. Ficar apenas em construção de um calendário de queima controlada mostrou que não é o suficiente para prevenir e evitar grandes incêndios.
No mínimo, é preciso instituir um organismo multi-institucional permanente para se adequar às mudanças climáticas e agir para mitigar os efeitos catastróficos de cada seca e incêndios. E não adianta alegar que não há recursos para criar ou manter mais um órgão, pois a cada ano os políticos aprovam a criação de secretarias extraordinárias que não têm utilidade alguma a não ser acomodar aliados políticos.
Os governos estadual e municipais (especialmente aqueles com altos índices de focos de calor: Alto Alegre, Amajari, Cantá, Caracaraí, Iracema e Mucajaí) precisam estar mobilizados e engajados junto com o Governo Federal para que famílias de agricultores e comunidades indígenas estejam devidamente treinadas para agirem de forma preventiva e devidamente equipadas para atuar no combate aos focos de incêndios antes que tudo saia do controle.
A situação atual mostrou que não houve vontade nem interesse político de agir antecipadamente para treinar brigadistas, inclusive temporários e com remuneração emergencial, uma vez que sempre surgem recursos extraordinários a título de calamidade pública. Em várias regiões, muitas pessoas sem preparo e sem equipamentos se arriscam ao irem para frente de combates criados pelas comunidades nas regiões onde o fogo saiu do controle.
Não há mais motivo para que as autoridades não se unam para formar uma reserva de pessoas capacitadas que possam auxiliar os bombeiros, agentes e brigadistas do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e da Defesa Civil para atuar na prevenção e no combate a grandes incêndios florestais.
A situação ficou tão fora do controle que não há nada organizado e estruturado para atender situações críticas, como a que ocorreu ontem no principal ponto turístico de Roraima, a Serra do Tepequém, no Amajari, onde o fogo destruiu árvores que caíram sobre a fiação da rede elétrica, deixando aquela localidade sem energia, água encanada e internet por 14 horas, desde as primeiras horas da manhã. Da mesma forma, a questão de abastecimento de água é crítica em vários municípios, piorando catastroficamente no verão intenso.
Outro fato que precisa ser levado em conta é que Turismo não pode andar dissociado dessas tragédias ambientais, tanto durante os períodos de seca quanto de inverno rigoroso. Neste ano, o fogo castigou severamente dois importantes pontos turísticos, a Serra do Tepequém e a Serra Grande, no Cantá, afetando duramente as atividades turísticas. Mucajaí também começou a se destacar pelo Turismo, por isso precisa de atenção também.
O Turismo é a principal fonte de geração de emprego e renda nessas regiões, daí a importância não só de criar e treinar brigadas comunitárias, mas também dar apoio aos trabalhadores que dependem exclusivamente desse setor, a exemplo de guias e condutores locais. Esses profissionais precisam receber uma bolsa ou auxílio emergencial não só em período de seca e queimadas, mas de inverno rigoroso, quando não podem exercer suas atividades.
A questão ambiental não pode mais ser negligenciada, especialmente em um Estado da região amazônica. Houve tempo suficiente para as autoridades agirem depois do grande incêndio de 1997/1998. As tragédias se repetiram em 2001, 2002 e 2003 em grandes proporções, mas inacreditavelmente as ações regrediram assombrosamente, especialmente nos últimos quatro anos. Não há mais espaço para alegações e desculpas.
*Colunista