Cotidiano

Unido pelo futebol no Centro Cívico, casal comemora quatro anos junto

Romance começou durante a Copa do Mundo de 2014 e chega ao altar em agosto, após a Copa na Rússia

A lembrança que a advogada Marcella Luchini e o servidor público Kelvin Feitosa têm da Copa do Mundo de 2014 vai muito além do fatídico 7×1 naquele Alemanha x Brasil. Quatro dias antes do jogo que todos os torcedores brasileiros desejam esquecer, os dois se reencontraram na Praça do Centro Cívico e perceberam que dali poderia nascer mais do que uma amizade.

Os dois já se conheciam há algum tempo, eram amigos nas redes sociais, curtiam as fotos um do outro, mas pessoalmente tinham trocado poucas palavras até então. Em 2014, Kelvin já morava em Brasília, onde trabalha, e passava férias em Boa Vista. “Eu tava doente há alguns dias, cansado de ficar em casa. Depois do jogo contra a Colômbia, decidi ir com meu irmão ao Centro Cívico. Chegando lá, me perdi dele. Comecei a procurá-lo, mas encontrei o amor da minha vida”, lembra.

Marcella também apareceu por acaso no Centro Cívico naquele 4 de julho. “Minha amiga, Deyse, me chamou pra assistir ao jogo do Brasil, disse que era uma oportunidade única, porque a seleção iria perder a próxima partida. Chegando à praça, eu me perdi dela. E encontrei o Kelvin ali próximo da Secretaria da Fazenda. Foi quando trocamos mais do que um ‘oi, tudo bem?’”, conta. “Eu lembro que perguntei ‘ueh, você já num tinha ido embora?’, porque eu sabia que ele tinha ido morar em Brasília no ano anterior”, diz a advogada.

Os dois ficaram conversando, sugeriram marcar uma reunião com os amigos em comum e trocaram telefones. “No dia da saída, nosso amigo em comum, o Rhaynner, ia dar carona pra ela e eu vi uma oportunidade. Pedi pra ele desmarcar a carona e ofereci levá-la para o restaurante. Eu a achava bonita, tinha um interesse”, relembra Kelvin. “Eu achei que podia ser só uma amizade mesmo”, acrescenta Marcella.

A semana foi passando e Kelvin precisava voltar para Brasília. Nenhum dos dois queria namorar, mas também “não queriam terminar algo que mal tinha começado”. Eles decidiram que continuariam se falando e “ver no que ia dar”. “Ela me convidou pra ir a um casamento de uma amiga dela em agosto aqui em Boa Vista. Dei meus pulos pra comprar a passagem e vir para o casamento. Naquele dia, a pedi em namoro”, diz.

Era 16 de agosto de 2014. Kelvin foi buscar Marcella no apartamento onde ela morava. “Eu cheguei lá com uma rosa. Ela saiu, eu fiquei de joelhos e a pedi em namoro. Foi engraçado porque tinha um senhor que morava na parte de cima e começou a aplaudir. A gente ficou sem saber o que tava acontecendo e ele disse ‘que nunca tinha visto algo tão bonito’”, lembra Kelvin.

O namoro começou, mas nenhum dos dois tinha coragem de tocar na palavra distância. São mais de quatro mil quilômetros de distância, três horas e meia de viagem de avião. Sempre que podia, um viajava para a cidade do outro. “Mas chegou uma época, com uns sete meses de namoro, que a distância começou a pesar e começamos a pensar no que a gente faria. Eu estou muito bem profissionalmente em Brasília e ela sabia disso desde o início. Então começamos a cogitar a hipótese de ela morar lá. Foram meses de negociação”, conta o servidor público.

Eles colocaram a decisão nas mãos do destino. Marcella faria a prova da Ordem dos Advogados do Brasil em poucas semanas e, caso passasse, iria morar em Brasília. “Depois da prova, eu liguei e ela não quis falar comigo”, lembra Kelvin. “Eu peguei meu carro e fui para a casa de uma amiga para ela corrigir a prova. Ela contou os pontos e eu tinha passado. Pedi pra todo mundo contar de novo. Era o medo de ir embora. Mas naquele mesmo dia eu comprei a passagem e, duas semanas depois, tava morando com ele”, diz a advogada.

“A Marcella abriu mão de muita coisa pra gente tá junto agora. Ela vendeu o carro, pediu exoneração e foi pra Brasília. Chegou lá dia 10 de agosto de 2015, seis dias antes de completarmos um ano de namoro”, conta Kelvin. Ela gosta muito de comemorar as datas simbólicas tanto é que vão casar-se no cartório no dia 16. A festa está marcada para dois dias depois. 

Há quase três anos morando na mesma casa, Kelvin e Marcella tiveram que aprender a conviver, dividir a casa, as tarefas. “No início, era tudo novo. Cada um tem suas manias, mas a gente sempre tenta conversar. Inevitavelmente deixamos acumular, mas acontece. Tem umas coisas que a gente faz errado, mas a convivência é boa”, ele avalia. “As pessoas acham que o relacionamento é fácil. É morando junto que a gente vê como a pessoa é, aprende a respeitar o espaço do outro, cede. Por mais que a gente tenha muita coisa em comum, há as diferenças”, concorda.

E foi durante uma viagem pela Europa que aquela pergunta que muitos sonham em escutar foi feita: “Quer casar comigo?”. “Eu sempre brincava dizendo que não ia pedir a Marcella em casamento porque éramos um casal moderno, mas acabei sendo tradicional. Antes da viagem, eu tive a ideia. Escondi a aliança no bolso de uma jaqueta, grudada com fita durex. Um nervoso praquele negócio não cair”, relata Kelvin.

Ele, que é uma pessoa reservada, queria fazer o pedido em um cenário bonito, quando os dois estivessem a sós. Algumas oportunidades surgiram, mas o momento especial aconteceu durante um passeio por um castelo em Amsterdã, na Holanda. “Quando a gente chegou ao castelo, eu vi uma noiva dentro de um carro. Fiquei doida. Comecei a tirar foto, dizer que queria casar num castelo, mas não imaginei que ele tava com uma aliança de noivado naquele momento”, recorda Marcella.

Kelvin acreditava que o pedido seria fácil, pois eles já moravam juntos. Mas o nervosismo falou mais alto. “Depois de a Marcella ficar tirando foto da noiva, fomos para a parte externa do castelo. Abriu um sol bonito, coloquei a câmera em cima de um toquinho e disse pra gente fazer umas fotos. Ela não queria porque tava gelado. Até que a convenci, deitamos na neve e, com o coração disparado, tirei o anel de dentro do bolso e perguntei se ela queria casar comigo”, conta. “Tá de onda comigo? Tá brincando comigo? Onde que tu arranjou isso”, questionou Marcella antes de dizer o aguardado ‘sim’.

Depois do frio, os dois começaram a pensar no casamento. Alguns amigos diziam que era melhor viajar, que uma festa era cansativa, desnecessária. “Eu que a convenci de fazer a festa. Nosso início foi difícil, fora do tradicional. Então decidimos fazer a festa, comemorar com a nossa família, os nossos amigos. É difícil organizar casamento, mas a gente tentou ser o mais leve possível”, diz ele.

Daqui a menos de dois meses, no dia 18 de agosto, Kelvin e Marcella serão marido e mulher de fato e de direito. Mas antes os dois viajaram para Boa Vista, na época da Copa do Mundo, para lembrar como se encontraram. “É uma forma de simbolizar, de relembrar aquilo que a gente viveu. É uma época festiva, de Copa, de arraial, de corrida. Foi proposital vir nessa época do ano”, contam os dois.

Quanto à Copa do Mundo deste ano? O casal está otimista com o hexacampeonato da seleção brasileira, mas pé no chão. “A gente procura ser otimista. Vê os jogos, as dificuldades. A gente quer que o Brasil chegue na final porque a gente adora Copa do Mundo”, torcem.

Eles assistiram aos dois primeiros jogos da seleção brasileira em Brasília, na companhia dos amigos. Hoje, no jogo Brasil x Sérvia, os familiares serão os acompanhantes. E pretendem ir à Praça do Centro Cívico em caso de vitória brasileira: “Queremos o hexa. E queremos muitas outras Copas do Mundo juntos”. (V.V)