Cotidiano

Monitorar internet não muda comportamento, dizem especialistas

Com a chegada das férias escolares, crianças e adolescentes têm a oportunidade de passarem mais tempo fazendo atividades recreativas, a maior parte com alguma participação na internet.

Esse tipo de comportamento pode deixar pais apreensivos sobre as influências que os filhos adquirem nas interações ou buscas de conteúdo em computadores, tablets e smartphones. Por causa disso, alguns acabam optando pela censura da internet ou o monitoramento do conteúdo que jovens costumam ter acesso.

Conforme a psicóloga Georgia Moura, o comportamento repreensivo em relação aos filhos é compreensível, mas não fará com que jovens parem de acessar o conteúdo desejado, uma vez que a própria internet é considerada como algo impossível de se proibir nos dias atuais.

“O melhor a se fazer é o diálogo, pois uma conversa aberta e franca é uma estratégia que contribui para uma relação de confiança entre pais e filhos. A proibição das redes sociais não adianta, tendo em vista que o acesso é um caminho sem volta”, contou.

A psicóloga explica que as orientações repassadas pelos pais precisam ser semelhantes àquelas dadas quando a criança brinca na rua ou pega o ônibus para a escola.

“Da forma que orientamos nossos filhos sobre os perigos de sair na rua e confiar em estranhos, precisamos ter a mesma abordagem quando se trata da internet. Não podemos deixá-los presos em casa ou afastados de qualquer tipo de internet”, explicou.

A psicopedagoga e psicóloga, Jussara Barbosa, concorda com o posicionamento de Geórgia sobre a necessidade do diálogo constante. Ressalta que, com crianças até dez anos, é necessário criar limitações afastando problemas de desenvolvimento cognitivo.

“Crianças que têm até dez anos não deveriam ficar expostas por mais de duas horas ao dia em aparelhos. Se elas ficam mais que isso, perdem a oportunidade de desenvolverem outras atividades motoras. Durante as férias, os pais precisam se organizar para realizar atividades junto aos filhos na qual haja interações, pode ser na areia, na praça, andando de bicicleta ou até um jogo de tabuleiro. Crianças de três a cinco não podem ficar mais de uma hora, e as mais novas deveriam ter o mínimo de contato possível”, explicou.

Jussara destacou que a idade ideal para crianças terem smartphones ou computadores seja a partir dos 11 anos, quando o desenvolvimento da coordenação motora já está avançado.

“Se os pais acompanham desde cedo o contato dos filhos junto aos eletrônicos, ensinado a utilizar, podem dar uma segurança ao filho quanto à posse de celular ou computador. Aos 11 anos as crianças já têm discernimento do que é considerado bom ou ruim”, ressaltou.

A psicopedagoga e psicóloga reforçou que o ato de monitoramento significa insegurança em relação aos filhos, podendo gerar quebra de confiança. Destacou que o jovem precisa ter juízo próprio do que considera certo ou errado, que é aprendido através da educação dos pais.

“Não gosto do termo ‘vigiar’ ou ‘monitorar’. Dizer isso coloca o filho em posição de inferioridade, o que pode motivar revolta na adolescência. O adolescente precisa sentir que tem confiança dos pais, e isso se adquire com o diálogo. Ensinar o jovem que ele possui autonomia a dizer sim ou não, e estabelecer valores que os façam identificar o que é considerado inseguro.”, concluiu. (P.B)