A época de chuva em Roraima sempre deixa marcas profundas nas ruas de Boa Vista, em especial buracos e lama, que muitas vezes ficam visíveis até mesmo após as chuvas passarem e o tempo se abrir.
Na avenida Padre Anchieta, situada no bairro Jardim Primavera, por exemplo, moradores já parecem acostumados a conviver junto a um enorme buraco que, atualmente, está coberto de água, tornando mais difícil a passagem de veículos. Segundo eles, o buraco em questão está lá há pelo menos três meses e está crescendo cada vez mais com o período de inverno.
Como consequência disso, todas as motos, e até mesmo alguns carros, que costumam passar por lá acabam desviando do obstáculo subindo pela calçada que divide os dois sentidos da avenida. A cena surpreende quem observa por fora, mas, segundo a feirante Aniely Costa, para quem vive por lá, essas práticas já são consideradas corriqueiras. “As motos fazem isso porque não têm outro jeito. Eu mesma já evito passar por essa avenida, pois sei que nela terei que subir na calçada, correndo risco de ser multada”, contou.
A funcionária pública Elda Gomes, que mora na avenida, conta que também evita passar por aquele trecho. “Além das motos, os carros mais baixos não passam por lá também, só tendo uma caminhonete mesmo. O que costumamos ver sempre é uma moto passar por lá, o motorista se dando conta que tem um buraco bem fundo e que não terá como passar, dar a ré, e ir pela calçada. Isso é bem perigoso”, contou.
A poucas quadras dali, a avenida São Joaquim, no bairro Silvio Leite, passa por uma situação parecida. O acúmulo de água em um dos sentidos da avenida causa tanta indignação que uma placa criticando políticos corruptos que não assistem a população foi posicionada por populares.
O agricultor e morador há seis anos da avenida, Kenny Rogers, que se vê ilhado diante da concentração e profundidade da água em frente a sua casa, explicou que todos os anos o mesmo cenário se repete diante de sua residência. “Estamos começando a articular a venda da casa porque do jeito que está não temos condição de ficar por aqui. Esse tipo de coisa não ocorre apenas no inverno. Até quando há chuvas de verão, elas acabam resultando nisso”, lamentou.
Sérgio Carneiro, que mora há 14 anos no Silvio Leite, relatou que mesmo tendo um transporte para ajudar a sair de sua casa, que fica diante da concentração de água, o portão é manual, dificultando a sua saída. “Eu preciso tomar cuidado para não pisar na água na hora de fechar o portão. Todo inverno é isso. Essa água fica concentrada, precisando de uma obra de drenagem. Tinha que ter algo do tipo aqui”, contou.
Água e lama invadem residências em rua do Silvio Leite
Avançando mais algumas quadras adentro do Silvio Leite, outro ponto chama atenção pelos impactos deixados pelas chuvas: a rua Joaquim Honorato de Souza. Em dias de chuva, é comum haver o acúmulo de lama dentro de residências, devido ao escorrimento da água.
O estudante Lucas Colares, morador da rua há mais de 10 anos, contou que o problema com as chuvas sempre ocorreu na rua, mas piorou bastante nos últimos quatro anos. Devido à ausência de calçadas, a chuva acaba indo para sua residência. “Quando eu vou para a faculdade de moto, preciso colocar uma tábua na frente de casa para conseguir engatar a partida. Só assim para conseguir sair com o pé na lama daqui. O que a gente sempre fica pedindo é que a Prefeitura coloque asfalto novo e não fique tapando buraco por cima porque não adianta de nada. Quando chega o próximo inverno é sempre a mesma coisa”, reclamou.
Na esquina da rua com a avenida Mário Homem de Melo, a dona de casa Antônia Cleciana Coelho relata que passa pela mesma situação. Um de seus dois filhos, de três anos, já adoeceu diversas vezes devido aos constantes alagamentos que invadem o quintal de sua casa. “O meu filho costuma ficar uma semana na escola e uma em casa. Ele fica alternando entre pegar uma gripe ou virose. Nem dá para ele brincar fora de casa, pois fica tudo alagado e cheio de lama”, contou.
Moradores ficam ilhados e culpam Governo
Já no bairro Asa Branca, uma das ruas mais afetadas pela chuva é a Amâncio Ferreira de Lucena. Apesar de o problema ser semelhante aos de moradores de outros pontos mencionados, esse possui uma diferença. Todos parecem culpar uma obra de esgoto do Governo do Estado, que começou no início do ano, mas foi interrompida.
Segundo o aposentado e morador da rua há 30 anos, Antônio Rodrigues, assim como em diversas ruas do Asa Branca, é comum haver enchente neste período de chuvas intensas. Entretanto, após o início da obra, o cenário pareceu piorar, com acúmulo de água em buracos profundos. “Sempre tivemos a formação de poças aqui por perto durante chuvas. Mas nunca foi nada que impedisse de andar na rua. Porém depois dessa obra, os alagamentos agora estão profundos. Estamos nos sentindo ilhados aqui”, contou.
Outro morador da rua, Josimar de Assunção, que é cadeirante, explicou que por causa dos buracos cheios de água, ele mal consegue sair de sua casa pelo portão da frente e usa a entrada da casa do vizinho para chegar à residência. “Uma vez eu estava indo para o culto que participo e acabei atolado em um buraco na frente de casa. Eu tentei me tirar de lá com a força dos braços, mas não adiantou. A minha sorte foi que logo depois duas moças desceram de um carro que estava passando e me ajudaram. Caso o contrário, eu teria ficado lá por um bom tempo”, afirmou.
Prefeitura diz que verificará situação de ruas
A Prefeitura de Boa Vista informou, através de nota, que irá enviar uma equipe da Operação Tapa Buracos até os locais citados para verificar a situação das avenidas e ruas. “Caso seja constatado que os buracos na via foram causados pela ação do tempo e pelas chuvas, o trecho será incluso na programação de serviços da Operação Tapa Buracos”, ressaltou.
GOVERNO – Em nota, a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) negou que as obras de implantação da rede de esgoto tenham ligação com o agravamento de alagamentos da rua Amâncio Ferreira. “Trata-se de uma rede fechada, que não é feita para absorver água da chuva”, explicou.
Em relação às obras de implantação da rede de esgotamento sanitário, a Seinf ressaltou que os serviços estão em execução, mas, em razão do período chuvoso, houve uma redução no ritmo de trabalho.
“Isso foi necessário por tratar-se de obra que envolve escavações profundas, que, com as chuvas, podem ser inundadas, inviabilizando o andamento das ações. Para evitar esse tipo de transtorno, a empresa responsável pela construção da rede de esgoto está fechando as valas que ainda estão abertas e dará prosseguimento às demais atividades das obras quando amenizar o volume de chuvas”, explicou. (P.B)