JESSÉ SOUZA

O bolso do consumidor é a nova vítima da seca, dos incêndios e da fumaça  

Enquanto alguns produtos estão em falta, preços dispararam na Feira do Produtor, a principal do Estado de Roraima (Foto: Arquivo/Folha)

Não é apenas a saúde da população roraimense que está sendo prejudicada por causa dos incêndios fora de controle por todo Estado e, nas últimas semanas, pela espessa nuvem fumaça que vem de um mega incêndio que avança sobre uma serra na Guiana, a 60Km da fronteira. Os sérios reflexos da seca e do fogo já podem ser sentidos também no bolso dos roraimenses, inclusive por quem vai à Feira do Produtor, onde geralmente os preços são mais baixos do que os dos praticados no mercado local.

Devido a este momento crítico, os preços dos produtos atingidos pelas queimadas descontroladas e incêndios florestais dispararam na principal feira na Capital. As principais vítimas do fogo foram os pequenos produtores que abastecem as feiras urbanas, os quais não têm sistema de irrigação em suas propriedades nem funcionários ou ajuda dos governos para combater o avanço do fogo sobre suas plantações.

Os grandes produtores, cuja atividade geralmente é para exportação, têm estrutura, máquinas e funcionários suficientes para ajudar na contenção e combate a incêndios em suas propriedades. Ao contrário da agricultura familiar, onde no máximo existe tão somente um caseiro com sua família que mal consegue se defender para salvar a casa onde eles vivem e garantir sua vida.

O resultado é que as plantações que conseguem sobreviver à seca severa não resistem ao fogo que avança sobre áreas de lavrado, matas, plantios e criação de animais. Os polos produtores de melancia (Normandia) e de banana (Sul do Estado), por exemplo, são os mais atingidos, com o preço dos produtos alcançando valores irreais, a exemplo da banana, que não se encontra na Feira do Produtor por menos de R$20,00 o quilo.

Sim, uma palma grande de banana pode sair por mais de R$30,00. Assim como a melancia dobrou de preço e está sendo oferecida por R$15,00 e até R$20,00 a unidade, enquanto o valor normal não passava de R$10,00. A pimenta foi outra cultura severamente atingida nas comunidades indígenas. A farinha está sendo vendida a preço de ouro e boa parte delas está vindo de fora. Até o quilo do tambaqui disparou, passando de R$14,00 para R$17,00.

O caso da banana tem outras implicações. Com a falta no mercado local, o produto está vindo até mesmo da Bahia, onde a colheita é feita antes do tempo para que a fruta não chegue vencida a Roraima. E há outro fator para a falta no mercado local: os agricultores estão deixando de plantar banana no Sul de Roraima porque está sendo mais vantajoso plantar dendê, uma vez que as empresas por lá instaladas dão incentivo para o plantio, assistência técnica e ainda compram a produção, além de gerar emprego para quem tem baixa escolaridade, nada de incentivo, zero acesso à tecnologia e sem conhecimento para gestão e comercialização.

Com maior oportunidade gerada pelo dendê, é óbvio que os pequenos produtores de São João da Baliza, São Luiz do Anauá e até Rorainópolis estão destinando suas terras para o dendê, largando não só o plantio de banana, já sacrificado por falta de incentivo e de estradas, mas também deixando para trás a coleta da castanha-do-Pará (castanha-do-Brasil), outro produto cada vez mais escasso e com preços lá em cima em Boa Vista. Mas esse é assunto para outra oportunidade.

Logo, os sérios reflexos na saúde da população por causa da fumaça, a extrema agressão ao meio ambiente e os reflexos econômicos na mesa da família dos roraimenses mostram a necessidade de uma mobilização imediata por parte das autoridades em todos os níveis de governos para uma política permanente destinada a enfrentar a seca, prevenir as queimadas descontroladas e incêndios, além de socorrer os pequenos produtores. Antes que seja tarde demais!

*Colunista

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