Rafael Parente Ferreira Dias
Professor de Filosofia da UERR
Atualmente, de acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), estima-se que aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome de Burnout, doença ocupacional reconhecida em 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um distúrbio psíquico resultante do estresse crônico no local de trabalho.
Obviamente, o diagnóstico deve ser feito por um profissional especializado. No entanto, mesmo na ausência de um diagnóstico formal, é crucial permanecermos vigilantes quanto à manifestação de quaisquer sinais que possam sugerir a necessidade de uma atenção mais cuidadosa com nossa saúde mental.
De acordo com a psicóloga norte-americana Christina Maslach, criadora do Maslach Burnout Inventory (MBI), a mais utilizada ferramenta diagnóstica de Síndrome de Burnout, diversos fatores podem influenciar o desenvolvimento dessa condição. Portanto, é crucial considerar quatro áreas de risco: 1. organização, 2. indivíduo, 3. trabalho 4. sociedade.
O primeiro fator de risco, a organização do ambiente de trabalho, pode influenciar negativamente tanto a mente quanto o desempenho profissional, facilitando o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. A seguir, citaremos algumas características corporativas que podem ser prejudiciais: O excesso de normas e burocracias, a falta de participação criativa, processo hierárquico enrijecido, pouca autonomia, ausência de ascensão profissional e salarial, falta de reconhecimento pelo desempenho, comunicação ineficiente, etc.
O segundo fator de risco reside no próprio indivíduo; nesse sentido, certos traços psicológicos, como perfeccionismo, excesso de competitividade, pessimismo e insegurança exacerbada, podem ampliar as chances de desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
O terceiro fator de risco é o próprio trabalho. O excesso de demanda que excede a capacidade produtiva, pressão constante por resultados, desigualdade salarial e comportamental, infraestrutura inadequada, dificuldade de trabalhar em equipe, etc.
O quarto e último fator de risco está associado às relações sociais. Indivíduos que se dedicam excessivamente ao trabalho, assumindo múltiplas responsabilidades, sem reservar tempo adequado para a convivência familiar, o descanso, a socialização ou o lazer, estão mais propensos a desenvolver problemas psicológicos. Ademais, a ausência de conexões fraternas e um ambiente familiar conflituoso também podem contribuir para o agravamento da situação.
Diante do exposto, surge a seguinte indagação: poderia a filosofia contribuir no combate à Síndrome de Burnout? Acreditamos que sim. Ao direcionarmos nossa atenção para o Oriente e buscarmos suporte na filosofia contemplativa, que engloba práticas de meditação e mindfulness, vislumbramos uma possível alternativa para promover o bem-estar mental e emocional. Ao cultivar a atenção plena, ou seja, a presença no momento presente, os trabalhadores podem expandir a sensação de tranquilidade, paz e equilíbrio, obtendo assim uma nova e eficaz ferramenta no enfrentamento do estresse, da ansiedade e da depressão.
Além disso, o autoconhecimento proporcionado pela meditação estimula o surgimento de habilidades socioemocionais (resiliência, empatia, entusiasmo, etc.) que favorecem a harmonia entre as aspirações pessoais e as atividades profissionais, promovendo um senso mais profundo de realização no trabalho e também fortalecendo a integridade pessoal. Desta forma, ao conectar trabalho, sentido e identidade, a filosofia pode ajudar a mitigar os sentimentos de despersonalização, tédio, inadequação, frequentemente associados ao Burnout.
Ademais, explorando as sutilezas da mente, torna-se mais fácil detectar as profissões que estão mais afinadas com os nossos reais interesses, valores e aspirações. Essa autoanálise permite que, por exemplo, sejamos mais capazes de enfrentar obstáculos e rejeições que podem surgir durante o processo de busca, troca ou até demissão do próprio emprego.
Em suma, a Síndrome de Burnout sinaliza a necessidade de revisão do atual paradigma das relações de trabalho. Nesse sentido, é importante que governos, instituições acadêmicas e a sociedade em geral se envolvam ativamente na conscientização sobre a importância de refletir e propor alternativas viáveis para a solução deste grande desafio do século XXI.